segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Momento literário: O problema do sofrimento - CS Lewis

Terminei a leitura do livro "O problema do sofrimento" de CS Lewis. É um livro teológico, mas gosto teologia, independente de religião . É uma leitura complexa,  embora tenha apenas 76 págs, requer muita atençao e conhecimento de algumas linhas teológicas e filosóficas, às vezes é necessario buscar em outras fontes alguns assuntos para nao se perder no texto.
Segue abaixo alguns fragmentos interessantes do livro "O problema do sofrimento":

Eu poderia, sem dúvida, ter aprendido até mesmo dos poetas que Amor é algo mais rigoroso e esplêndido do que a simples bondade: que até o amor entre os sexos é, como em Dante, "um senhor de terrível aspecto". Existe bondade no amor, mas amor e bondade não são confinantes, e quando a bondade (no sentido dado acima) é separada dos demais elementos do Amor, ela envolve uma certa indiferença fundamental ao seu objeto, e até mesmo algo semelhante ao desprezo em relação a ele.

A possibilidade do sofrimento é inerente à própria existência de um mundo onde almas possam encontrar-se. Quando as almas se tomam perversas, elas certamente fazem uso desta possibilidade para se ferirem umas às outras. Isto talvez justifique quatro-quintos dos sofrimentos humanos. Foram os homens, e não Deus, que inventaram a tortura, os chicotes, as prisões, a escravidão, as armas, as baionetas e as bombas. A pobreza e o excesso de trabalho são produtos da avareza ou da estupidez humana e não uma distorção da natureza. De todo modo, porém, existe ainda muito sofrimento que não pode ser atribuído a nós mesmos.

Kant era de opinião que nenhum ato tinha valor moral a não ser que fosse realizado com base na mais pura reverência pela lei moral, isto é, sem inclinações, e ele foi acusado de uma "disposição de espírito mórbida" que mede o valor de um ato pelo desgosto que provoca. Toda opinião popular entretanto apóia realmente Kant. Ninguém admira um homem por fazer algo de que goste: as próprias palavras "mas ele gosta disso" implicam no corolário: "Portanto não existe mérito".

Todavia, em oposição a Kant se coloca a verdade evidente, notada por Aristóteles, que quanto mais virtuoso se torna o homem tanto mais ele aprecia os atos de virtude.
Quando penso em dor - naquela ansiedade que corrói como fogo e na solidão que se estende como um deserto, a triste rotina da miséria monótona, as dores fundas que escurecem todo o nosso horizonte ou aquelas repentinas e enjoativas que arrancam o coração de um só golpe, dores que já parecem ser intoleráveis e de súbito aumentam, dores furiosas como se fossem picadas de escorpião que provocam movimentos adoidados em alguém que parecia meio morto por causa das torturas já sofridas - isso "quase abate o meu espírito". Se conhecesse algum meio de escapar, me arrastaria através de esgotos para descobri-lo. Mas, de que adianta falar-lhe sobre os meus sentimentos? Você já os conhece: são os mesmos que os seus. Não estou discutindo que a dor não seja penosa. A dor magoa.

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