quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O amante

Li "O amante", de Marguerite Duras.
A menina tem 15 anos e meio, o amante é uma década mais velho, se não bastasse a diferença da idade, ela é branca, ele chinês, ela é de uma família de colonos falidos, ele é rico. Tudo acontece no Vietnam, nos anos 30.
Ela sente-se todo tempo sufocada pela mãe que quer decidir o seu futuro, já tem tudo planejado e ela odeia isso, arrumar o amante, além de ser um meio de chocar e se rebelar contra a mãe, era a paz que ela encontrou em meio ao caos. Ela não sabia se estava realmente interessada nele, no dinheiro dele, tinha a mente de uma adolescente perdida, mas gostava de estar lá.
Ele também se sentia culpado por amá-la, o sexo era uma mistura de culpa, dor e prazer, conforme é notado nos trechos abaixo:
Ele lhe arranca o vestido, joga-o longe, arranca a calcinha branca de algodão e a leva nua para a cama. Então, vira-se para o outro lado e chora. E ela, lentamente, com paciência, o traz para perto e começa a despi-lo. Ela faz tudo com os olhos fechados. Lentamente. Ele procura ajudá-la. Ela pede-lhe que não se mexa. Deixe-me. Diz que quer fazer isso sozinha. E faz. Ela o despe. Quando ela pede, ele movimenta o corpo na cama, com cuidado, ligeiramente, como se não quisesse acordá-la.

Ela não olha para o rosto. Não olha. Só o toca. Toca a doçura do sexo, da pele, acaricia a cor dourada, a novidade desconhecida. Ele geme, chora. Dominado por um amor abominável.

E chorando ele realiza o ato. A princípio, a dor. E depois a dor se transforma, é arrancada lentamente, transportada para o prazer, abraçada ao prazer.

Ela tem um irmão mais velho que é um bruto, o mais novo que ela era mais apegada, morre,  há uma amizade muito colorida com uma colega que ela passa até a desejar, mostrando uma homossexualidade não consumada:

Eu gostaria de comer os seios de Hélène Lagonelle como são comidos os meus no quarto da cidade chinesa aonde vou todas as noites aprofundar-me no conhecimento de Deus. Ser devorada por aqueles seios maravilhosos que são os dela.

Odiava a mãe e gostava de ser considerada filha do chinês (filha no sentido ilustrado abaixo, se é q vc me entende):

Às vezes dizia que tinha vontade de me acariciar porque estava certo de que eu queria e porque desejava ver-me no momento do prazer. Ele o fazia e me olhava e me chamava como se chama uma filha.
O complexo de Édipo também é notado entre a mãe dela e o irmão mais velho, porque ele era viciado, roubava as coisas da mãe, mas ela nunca cobrava nada dele, protegia-o muito:
Creio que somente do mais velho ela dizia: meu filho. Às vezes o chamava assim. Dos outros dois ela dizia: os mais novos.
Aos 18 anos ela já se sentia velha, acabada:
Muito cedo na minha vida ficou tarde demais. Quando eu tinha dezoito anos já era tarde demais. Entre dezoito e vinte e cinco meu rosto tomou uma direção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com todos, nunca perguntei. Creio que alguém já me falou dessa investida do tempo que nos acomete às vezes na primeira juventude, nos anos mais festejados da vida. Esse envelhecimento foi brutal.
O livro é fininho, o que eu tenho é o da Coleção Folha, 94 págs, embora a leitura seja simples, há uma profundidade de assuntos muito interessantes: a colonização francesa na Indochina, o racismo, relações familiares, erotismo, assuntos freudianos, etc. Leiam, mujeres, é interessante!

2 comentários:

  1. Esse livro realmente é muito doce, um dos que mais gostei, li durante minha adolescencia... Ler essa postagem me deixou nostaugica... Realmente é um livro que merece ser lido!!!

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  2. Oi Ana. Obrigada por ter comentado sobre o livro O
    Amante. O filme é de 92 e eu o assisti em 97 em fita UHF! De lá para cá eu o procurei em algumas locadoras mas não consegui encontrar. Acho que não tem em DVD. É uma pena pois o filme consegue ser melhor que o livro. A trilha sonora é maravilhosa, com piano de Gabriel Yared e a direção é de Jean-Jacques Annaud que fez uma obra
    prima. O filme é tão marcante Que eu nunca esqueci, e olha que eu amo cinema. A propósito eu sou paraense e moro em Castanhal/Pa. e gosto muito do seu blog.Bjoos. Rosíria.

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