quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Desafio literário: Perto do coração selvagem - Clarice Lispector

 Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais (...) Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior serenidade na alucinação. É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.”

Último livro do desafio 2010. O primeiro romance publicado de Clarice, ela tinha entre 19 e 20 anos, de caráter existencialista, narra a história de Joana desde sua infância até o fim de seu casamento, sua relação com o pai, o professor, o marido, a amante do marido e seu amante. Joana é introspectiva, reflete muito, mas não consegue falar ou relacionar e quando fala os ouvintes ignoram, não entendem, na verdade nem ela compreende a si mesma.
Eu fico muito perturbada quando leio Clarice, pego as dores dos personagens para mim, acho que toda mulher de alguma forma se identifica com alguns hábitos e pensamentos dessas personagens, aquela sensação que só o sexo feminino entende. Ela tem todos os sentimentos, sonha em realizá-los, mas está sempre só, tem muitos questionamentos, mas não encontra as respostas. Ela de alguma forma perde todo mundo que ela tem uma ligação por diversos motivos, morte, doença, incompreensão, etc.

Fragmentos:

"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”

"A tragédia moderna é a procura vã de adaptação do homem ao estado de coisas que ele criou."
"Por isso é que vemos multiplicarem-se os remédios destinados a unir o homem às idéias e instituições existentes — a educação, por exemplo, tão difícil — e vemo-lo continuar sempre fora do mundo que ele construiu. O homem levanta casas para olhar e não para nelas morar".

"(...) eu nunca sei o que fazer das pessoas ou das coisas de que eu gosto, elas chegam a me pesar, desde pequena. Talvez se eu gostasse realmente  com  o corpo... Talvez me  ligasse mais... — São confidencias, Deus meu".

"É que tudo o que eu tenho não se pode dar. Nem tomar. Eu mesma posso morrer de sede diante de mim. A solidão está misturada à minha essência..."

“Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro!”
 Sou suspeita em dar nota para Clarice, para mim ela é a melhor escritora que o Brasil já teve e quiçá uma das melhores do mundo.
 Agora "vamo-que vamo" para o desafio de 2011. Estou orgulhosa de mim mesma, li todos os livros, não falhei em nenhum mês.

5 comentários:

  1. Este livro esta' na fila!!!! Adorei sua resenha, tambem gosto de ler Clarice!. Beijos

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  2. Clarice é tudo nessa vida. Excelente escolha... mesmo sendo tão "perturbadora".
    E parabéns por não ter falhado nenhuma vez!!! Eu faltei em dois meses... shame on me...
    Bjs

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  3. Li esse livro pro desafio (não lembro o mês), ele é muito louco, mas muito bem escrito e personagens complexos. Clarice é um escritora completa.
    PArabens por cumprir o Desafio!,

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  4. Parabéns, queridaça, por cumprir o desafio. E, concordo, Clarice Lispector é a escritora, escreve com a alma.

    Beijocas

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  5. Li esse livro anooos atrás, acho que pro vestibular até. Viajei total na maionese e fiquei deprimida depois, mas gostei!

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