terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O conformismo dos outros x minha teimosia

Estava pensando esses dias sobre como as pessoas que gosta da gente ou tem alguma consideração têm um dom de nos iludir e de querer que a gente se conforme com as situações. Explico:

Faculdade:
Sempre estudei em escola pública e quis fazer faculdade pública, aí essas pessoas, não por maldade, mas para te confortar, dizem que é muito difícil, facul pública é para filhinho de papai, etc. Realmente foi difícil, passar no vestibular foi até fácil perto de tudo que tive que enfrentar para terminar a faculdade, pois já tinha um filho, uma casa e um trabalho para dar conta, além disso tive um problema de saúde na família e tive que internar e ir todos os dias durante meses ao hospital e acompanhar no tratamento. Se para quem só estudava era difícil, para mim beirava ao impossível, mas fui até o fim.

Trabalho:
Eu inventei de trabalhar em órgão público, mas as pessoas sempre me desencorajavam dizendo que só entrava carta marcada, que era muito difícil, etc. Eu, teimosa como sempre, prestei vários e passei em todos, quando fico entediada, presto um concurso e mudo de lugar.

Maternidade
Fui mãe muito cedo, não estava nos meus planejamentos, mas assumi, todos olhavam com pena para mim, como se eu não fosse dar conta de criar, mas para surpresa de todos, meu filho está vivo, lindo e saudável.

Imigração:
Para terminar, inventei mudar de país, claro que essas pessoas que querem me proteger de enfrentar a realidade quase surtaram: Como você vai sair daqui? Você tem um emprego estável, mora em um bairro bom, seu filho está numa boa escola, vai para um país e ter que começar do zero, arranjar casa, emprego, adaptar ao frio rigoroso e aquele monte de bla bla bla. Eu vou porque não tenho rabo preso, se der errado eu sou resiliente para arcar com as consequencias, mas prefiro meter as caras a não tentar.

Resumo: Acho sim que tenho mania de grandeza, eu nunca desisto e se encaro é porque acho que dou conta, eu não sou conformada com quase nada e a rotina me assusta. Por isso sou inconstante, imprevisível e incompreendida. Eu sei que as pessoas querem o meu bem, querem que eu me aquiete e aceite as coisas dentro da minha realidade. Eu juro que daria tudo para ser tranquila porque não é fácil ser eu, eu me cobro demais, preciso pegar mais leve, relaxar. Falo para minha mãe que já vivi mais que ela, já passei por muita coisa em um curto intervalo de tempo, hoje nos meus trinta e poucos anos, sinto-me velha, cansada, acabada, sem paciência, fico olhando minhas colegas todas empolgadas com casamento, maternidade, coisas que já passei há muito tempo, elas estão começando agora o que eu já fazia aos 19 anos, nada é novidade mais, nada me empolga, já sei o que é dor de parto, dor de dente e dor de tatuagem. Eu não sei o que é passar por adolescência ou pela juventude, passei trabalhando, tendo responsabilidades de gente grande. Foi uma escolha que fiz, não sei se foi boa, mas era o que tinha de ser feito. Quando eu tiver uma casa e um emprego no exterior eu prometo aquietar-me e viver uma vidinha bem tranquila, plantar tulipas e criar um cachorro, fazer caminhadas e tudo o que as pessoas normais fazem. Chega de afobação! Cansei de ser eu, cansei de provar que consigo o que eu quero, porque eu estou competindo comigo mesma, se eu fosse seguir o conselho dos outros, não teria feito nada da vida, mas mesmo assim, acho que exagerei, esse negócio de viver como se não houvesse amanhã é muito louco, não dá não, vou pedir pra sair.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

MPB movies


Esses dias reservei um tempo para assistir a uns filmes que falam sobre música brasileira. Comecei pelo "Ninguém sabe o duro que dei", é um filme documental sobre a vida e a obra de Wilson Simonal, dizem as más línguas que ele era pelego e dedou os companheiros para os milicos e isso prejudicou muito a carreira dele, o filme é mais tentando explicar que isso era mentira, intriga da oposição. Não posso negar que o homem era um show man, ele levantava a galera, tinha um carisma indiscutível. Rankeando de 0 a 5: daria 2,5.

Os desafinados: Disseram-me que era um filme sobre bossa-nova. Atores: Selton Mello, Rodrigo Santoro, Angelo Paes Leme, Jairzinho,a Claudia Abreu e Alessandra Negrini, gosto deles todos, mas o filme é uma bosta chatice, ficou devendo muito, inclusive encher mais a bola da bossa, a trama fica cozinhando em banho-maria, quando você pensa que vai acontecer alguma coisa interessante, não acontece, a gente fica o filme inteiro com uma cara blasé. O tema era bom, os atores eram bons, mas o roteiro desandou, Rodrigo Santoro estava mais perdido que em Lost. De 0 a 5: 1


Uma noite em 67: Esse sim vale a pena. é um documentário sobre o Festival de música na Record em 67. Que tempos maravilhosos que não voltam mais! O público era muito exigente, vaiava mesmo, os jurados eram brilhantes e os cantores eram de 1ª categoria. Imagine um festival em que os jurados tinham que escolher entre "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso; "Domingo no Parque", de Gilberto Gil; "Roda Viva", de Chico Buarque, "Ponteio", de Edu Lobo, é muita responsa hein?
O babado da noite foi quando o público vaiava insistentemente o Sérgio Ricardo, aí ele quebra o violão e joga na plateia.
Tem o depoimento do meu querido Chico de Assis (adoro ele, mas ele não sabe disso! rsrs), vou falar dele no Desafio Literário sobre peça teatral.
Naquela época os artistas se apresentavam de pinguim smoking, só que nesse ano surgia o Tropicalismo, Gilberto Gil se apresenta com "Os mutantes", Rita Lee bem riponga. Sem falar que o Brasil passava por um momento político e ideológico bem complicado. Assistam, muito bom! De 0 a 5: 5
Trailer:

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

le charme discret de la bourgeoisie*




"Escolha viver. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha lavadoras de roupa, carros, CD players e abridores de latas elétricos. Escolha boa saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha uma hipoteca a juros fixos. Escolha sua primeira casa. Escolha seus amigos. Escolha roupas esporte e malas combinando. Escolha um terno numa variedade de tecidos. Escolha fazer consertos em casa e pensar na vida domingo de manhã. Escolha sentar-se no sofá e ficar vendo game shows chatos na TV enfiando porcaria na sua boca. Escolha apodrecer no final, beber num lar que envergonha os filhos egoístas que pôs no mundo para substituí-lo. Escolha o seu futuro. Escolha viver."


Adoro esse monólogo inicial do filme Trainspotting, na sociedade capitalista moderna prega que ser feliz é ter todo esse bla bla bla citado acima. Ser feliz é simplesmente SER.
*O título da postagem é o título de um filme de Buñuel que alopra com pessoas desse tipo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Filmes do fds


The tattooist (O tatuador) é um filme de terror neo-zeolandês, é fraquinho, mas para quem gosta de tattoos como eu, vai curtir

"A dor da tattoo tem um significado, ela te modifica.Você aguenta, aceita e vive com ela".
Burlesque: O filme tem um roteiro fraco, mas adoro musicais, já falei de vários aqui, adoro o clima burlesco, figurinos ótimos e o melhor, tem minha diva amada e idolatrada, Cher! Ela cantando You haven't seen the last of me é tão lindo que chorei! Quem gosta de blings, paetês, make-ups e músicas de cabaré é um prato cheio.
Salon Kitty, do diretor italiano, Tinto Brass, ele usa tema pesado como o Nazismo com conteúdos eróticos. Além do roteiro ótimo, figurino show de bola, tanto dos soldados alemães quanto às lingeries das meninas. Makes e esmaltes divinos.
Kitty era dona de um bordel cheio de prostitutas exóticas, de todas as cores e sabores, mas teve que dispensá-las e contratar as brancas da "Juventude hitlerista" e treiná-las para servir o Reich.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Desafio literário de fevereiro: Biografia ou memórias

 Esta música é feita daquilo que desfaz o músico [Christian David]

Para o Desafio escolhi a biografia da Clara Schumann. Estava assistindo o canal "Film & Arts" e teve um especial "Mulheres na música clássica", uma dessas mulheres homenageada foi a Clara e achei muito linda as composições dela e depois procurando na internet, vi que tinha uma biografia dela escrita por Catherine Lépront, fazia parte da coleção "Uma mulher", lançada pela Editora Martins Fontes, nessa coleção, além da Clara, tem da Frida Kahlo, Camille Claudel, Anita Garibaldi, Marie Cure, entre outras.

A saga para achar o livro:

Não achei em nenhuma livraria, nem sebo, nem e-books, entrei em contato com a Martins Fontes e eles pararam de distribuir, aí fui para internet, no Mercado Livre estava esgotado, no Amazon não tinha em português, sabe onde achei? Nas americanas(dot)com, fiquei muito feliz, o livro chegou em 2 dias, veio amarelado, como se tivesse estocado por muito tempo, mas eu consegui e não me arrependi.

Infância
O pai de Clara era professor de música, um dos mais respeitados da época, a mãe não suportava aquela música o dia inteiro na casa, abandonou o marido e os três filhos. Clara aprendeu música antes mesmo de ser alfabetizada e aos 7 anos iniciou sua carreira. Todos ficavam surpreendidos com a menina prodígio, ela tocou até para Goethe. Aos 9 anos, chegou em sua casa um jovem músico bem promissor interessado em fazer aulas com pai dela, na época com 18 anos, seu nome era Robert Schumann, as crianças gostavam dele pois contava histórias de dar medo. Clara, aos 15 anos, recebeu sua 1ª declaração de amor vinda de Robert que estava noivo de outra, mas terminou o namoro. O pai de Clara, após descobrir o caso dos dois, proibiu-a de encontrar, e até trocar cartas com Robert.
Robert e Clara

Casamento
Robert e Clara continuaram suas carreiras e ficaram anos sem se ver, mas mantiveram a promessa de amor e de se casar assim que ela fizesse 21 anos. Hoje em dia não existe amor assim. Eles moveram montanhas para ficarem juntos, o pai dela ameaçou tirar tudo dela, eles só casaram em juízo, depois de processos na justiça de Robert contra o pai e vice-versa, ela sacrificou a seu amor pela família por amor a Robert.
Casaram e Robert tornou-se obsessivo pelo trabalho, passava horas ao piano e Clara passava muito tempo só, mas apoiava o marido, o homem que ela amou, venerou, lutou.

Filhos
Clara teve no total, 8 filhos, o 4º filho e único menino até então, morreu com menos de 2 anos, foi um choque que deixou o casal muito abalado, mas mesmo assim continuaram lutando por manter a família e as carreiras.
Depois, sua filha Julie morreu aos 28 anos de tuberculose, deixando três filhos. Seu filho Ferdinand foi para guerra e voltou com a mesma doença herdada pela mãe, o reumatismo. Esta doença manteve Clara muitas vezes fora dos palcos e agora fez seu filho dependente de morfina por não suportar as dores crônicas.
Não só Clara tinha uma doença grave, Robert enlouqueceu, passou os últimos 3 anos de sua vida internado numa clínica, infelizmente um dos filhos, o Ludwig também herdou os problemas psiquiátricos do pai e passou a vida internado, Felix também estava com tuberculose.

Carreira
Com Robert internado e com 7 filhos para criar, ela voltou ao trabalho, teve uma carreira de sucesso, tinha grandes amigos como: Mendelsson, Liszt, Josef Joachim e o Brahms. Ela odiava o antissemita Wagner.

Johannes Brahms
Brahms
Jovem, chegou com 20 anos na casa dos Schumann, Robert viu nele uma genialidade, viraram amigos. Depois que Robert foi internado, Brahms nunca abandonou Clara, ele arrumava umas noivas, mas nunca se casou porque nunca encontrou uma mulher como ela. Não se sabe ao certo o tipo de relação dos dois, trocavam cartas muito informais, cheias de demonstrações de carinho, ela o chamava de "anjo consolador", ele, após criar uma composição, pedia primeiramente o aval dela, os dois eram muito confidentes.

Velhice
Clara demonstrava muito carinho e admiração por Robert, mesmo depois de morto, ela não se casou de novo, além do reumatismo ela passou a ter problemas de surdez. Seu trabalho foi comparado ao de Liszt,  mas, por ser mulher, não teve tanto reconhecimento na história, ficou meio à sombra do marido, mas foi guerreira, enfrentou o próprio pai, lutou por seu amor, pela maternidadade, enfrentou guerras, doenças, falta de grana, mesmo com todos esses problemas, manteve sua carreira brilhante. Ela é um exemplo para todas as mulheres de coragem, inteligência e de admiração.
Letras de alguns Lieder  (tradução livre feita por mim, se alguém conhece alguma tradução oficial ou viu algum erro, favor, avise-me): 

Er ist gekommen in Sturm und Regen (ele vem na tempestade e na chuva)

Ele vem na tempestade e na chuva
Meu ansioso coração bate por ele
Como eu saberia que seu caminho
Uniria-se ao meu?

Ele vem na tempestade e na chuva
Ele audaciosamente roubou meu coração.
Ele roubou o meu? Eu roubei o dele?
Ambos viemos juntos.

Ele vem na tempestade e na chuva
Agora vem com a benção da primavera
Meu amor salta para fora, eu observo com regozijo


Liebst du um Schönheit (amor pela beleza)
Se você me ama pela beleza,
não me ame
Ame o sol
que tem cabelos dourados

Se você me ama pela juventude,
não me ame
ame a primavera
que se renova todos os anos

Se você ama tesouros,
não me ame
Ame a sereia
ela tem muitas pérolas claras.

Se você me ama por amor
ah, sim, então me ame
ama-me sempre
Te amarei muito mais


Warum willst du and're fragen
(Por que vai questionar os outros?)

Por que vai questionar os outros
que não são fiéis à você?
Acredite apenas naquilo
que esses olhos dizem

Acredite, não em pessoas estranhas,
acredite, não em fantasias peculiares
mesmo minhas ações, você não poderia interpretar,
mas olhe nestes olhos

Silenciará seus lábios suas questões
ou se voltarão contra mim?
Mesmo que meus labios pudessem dizer,
olhe meus olhos: te amo!