quinta-feira, 30 de junho de 2011

DL: Quando as máquinas param - Plínio Marcos

Mais uma peça brasileira para fechar com chave de ouro o desafio literário do mês. Desta vez li "Quando as máquinas param" do dramaturgo Plínio Marcos, conhecido também como autor maldito, por inserir  personagens de 'gente diferenciada' nas peças, pobres, ladrões, prostitutas, além de usar muitos palavrões. Ele era um tipo como o Lula, não tinha muito estudo, mas era phoda, a escola foi a vida. Além da peça "Quando as máquinas param", assisti no teatro "Navalha na carne", "Dois perdidos numa noite suja" e "O abajur Lilás".

Na peça "Quando as máquinas param", tem dois personagens: O Zé e a Nina, são casados, o Zé foi demitido e passa o dia procurando emprego e jogando bola com a meninada na rua, é um corintiano sofredor, vai para o boteco ver os jogos. Já Nina é uma costureira, às vezes as clientes demoram para pagar, ela gosta de ouvir rádio-novelas, chora de emoção, queria que o Zè falasse palavras bonitas para ela igual o galã da novela fala, mas o único jeito que ele demonstra carinho é dizendo: "Nina, nessa vida só torço para você e pro Corinthians!", ô coitada! rsr. Ela gosta de assistir concurso de miss, não gosta quando o Zé fica falando palavrão ou jogando bola na rua. Os dois vivem endividados, devendo no armazém, o aluguel e o locatário quer despejá-los. Apesar das dificuldades da vida, eles tem um ao outro:
[Zé] Poxa, Nina, você é tão bacana. Se você não fosse tão positiva, eu tinha me entregado. Palavra que você me dá um puta embalo.
Você é firmeza. Eu gostaria de te dar uma boa vida. Você merece. Mas pegamos um mar de azar que eu vou te contar! Se não fosse você ser quem você é, eu me entortava, mas a gente se apruma um dia, pode botar fé.
[Nina] Eu acredito. Tudo tem que melhorar. Deus há de ajudar a gente. Nunca fizemos mal a ninguém.

Nina era super para cima, aguentava poucas e boas, dava a maior força, como desgraça pouca é bobagem, ela descobre que está grávida, Zé até gosta no começo, depois pede para ela tirar o filho.
[Zé]  Por isso eu não quero que esse aí nasça. Nascer para quê? Pra viver na merda? Sempre por baixo? Sempre esparro? Sempre no arroxo? Aqui! Eu sei bem como é essa vida. Quem puder mais chora menos. E nós não podemos nada. Nem ter filhos. Eu quero livrar a cara dele de nascer pobre. Eu não quero que amanhã seja que nem eu, que só pego o pior.
Aí Zé perde a cabeça com a Nina e parte para a agressão. É tão triste saber que essa é a realidade de tantas famílias brasileiras, as pessoas tem vontade, determinação e motivação para trabalhar, mas as máquinas estão paradas, as portas fechadas, isso endoidece o peão, animaliza o homem, ele perde a razão, não por ser uma pessoa má, mas porque a vida sempre foi muito difícil para ele, está sem perspectiva, sem esperança, não tem nada a perder. Se as máquinas param o homem pára, se o homem pára, o consumo pára, se o consumo pára a economia quebra, se o economia quebra o país fica endividado e vira capacho. Enquanto o sistema capitalista for o único sistema para a sobrevivência, este círculo vicioso vai continuar, vide Grécia, Espanha, Portugal, etc. A casa está caindo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

La faute à Voltaire


Ultimamente tenho visto muito filme sobre imigração, claro que a imigração de refugiados é bem diferente da imigração de trabalhadores qualificados, o primeiro vive em condição de extremo risco em sua terra natal, já o segundo quer uma oportunidade melhor na vida.
A culpa é de Voltaire é um filme de comédia dramática, é engraçado para quem assiste, mas totalmente dramático para quem vive esta situação.
Por quê a culpa é de Voltaire? Porque foi precursor do iluminismo, defensor de idéias de liberdade, igualdade e fraternidade. As pessoas vão na ilusão de que todo francês é Voltaire, impossível Sarkozy ser Voltaire, com sua política xenófoba. O filme começa com um tunisiano preenchendo os formulários do pedido de refugiado, na sala de espera, ele aprende novas manhas com outros candidatos que pedem a ele para fingir que é argelino, pois os franceses tem um dívida histórica com a Argélia e se vê no direito de aceitá-los. Então o tunisiano se passa por argelino, consegue o direito de ficar 3 meses, vai para uma pensão de imigrantes, tenta casar com uma mulher pela cidadania, não dá certo, vai parar em um hospital psiquiátrico, conhece uma doidinha, trabalha como vendedor de flores e de frutas, sempre fugindo do 'rapa'. A menina doente é a representação da França, bonita, mas insana, desequilibrada. O bichinho só se dá mal. É tanta propaganda enganosa sobre viver em pais rico que olha...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O pagador de promessas - Dias Gomes

Como notaram, estou super empolgada com o tema do Desafio Literário. Peças teatrais são textos curtos, por isso dá para ler bastante, tenho várias peças em casa, mas só lia Shakespeare e Samuel Beckett, estou 'desenterrando' as outras, além de Brecht, estou consumindo a dramaturgia brasileira: Nelson Rodrigues, Chico de Assis, Dias Gomes e na próxima semana, Plínio Marcos. O que falta para os brasileiros descobrir o Brasil? Incentivo, porque estes textos tem em qualquer livraria, estão lá empoeirados, mas não temos professores ou pais motivados que incentivam os alunos/ filhos a terem acesso a esta arte. Sempre digo, se alguns de nossos autores tivessem nascido na Europa, as obras seriam melhor difundidas. Por isso faço questão, se conseguir convencer poucas pessoas que leem este blog a levar a obra destes autores adiante, já fiz a minha parte.

O pagador de promessas é um espetáculo que virou filme, o primeiro filme brasileiro que concorreu ao Oscar e ganhou o prêmio no Festival de Cannes.
O pagador de promessas é, talvez a mais importante obra do saudoso Dias Gomes. Não é simplesmente o aspecto da intolerância religiosa que importa, nem tampouco o dogmatismo religioso. Num país como o nosso, onde o sincretismo das religiões convive cotidianamente em quase todas as atividades, a simbologia do Zé do Burro é um grito contra a engrenagem desumana que sufoca que sufoca e limita anseios de liberdade [José Renato - Diretor teatral]
Principais personagens:
Zé do Burro: o homem que faz uma promessa a Santa Bárbara, se ele alcançasse a graça, daria metade de sua propriedade aos pobres e levaria uma cruz até o altar da igreja de Santa Bárbara que fica a 42 km, trajeto que ele e sua esposa fizeram a pé. Ele além de ser religioso, é supersticioso, procura o santo que possa ajudá-lo, independente de ser fiel apenas ao catolicismo.
Rosa: Esposa do Zé do Burro, uma mulher bonita, sexy e que de uma certa forma sente-se enclausurada e sem perspectiva de ser feliz.
Bonitão: Um cafetão que vê o casal chegando de madrugada na porta da igreja e propõe a Rosa que vá descansar em um hotel, pois o Zé, obcecado pela promessa, não arreda o pé enquanto a igreja não abrir.
Padre: O padre é um homem bem austero, não aceita que o Zé entre na igreja para cumprir a promessa, primeiro que a promessa era para que seu burro fosse curado, ele não concordava com isso. Segundo, a promessa foi feita a Iansã, no Candomblé; mas Iansã e Santa Bárbara tem a mesma função, são a mesma pessoa. O padre proibe a entrada do Zé com a cruz na igreja, isso causou burburinho na cidade.
Repórter: Em busca de uma boa pauta para o jornal, ele conta a história do Zé de uma forma totalmente distorcida, Zé nem entende o que o repórter está dizendo, mas coopera e tira até fotos para a matéria do jornal.
Zé na sua ingenuidade falando com o padre sobre fazer uma promessa pelo burro:
Nicolau não é um burro como os outros. É um burro com alma de gente. E faz isso por amizade, por dedicação. Eu nunca monto nele, prefiro andar a pé ou a cavalo. Mas de um modo ou de outro ele vem atrás. Se eu entrar numa casa e demorar duas horas, duas horas ele espera por mim, plantado na porta. Um burro desses, seu padre, não vale uma promessa?
[Padre] A igreja é de Deus, candomblé é do diabo
Repórter com suas perguntas comprometedoras e capiciosas.
Repartir o sítio... diga-me, o senhor é a favor da reforma agrária?
[Zé] Reforma agrária? O que é isso?
[Repórter] É o que o senhor acaba de fazer em seu sítio. Redistribuição de terras entre aqueles que não as possuem..
É contra a exploração do homem pelo homem. O senhor pertence a algum partido político?
Notícia publicada na gazeta:
O novo Messias prega a revolução
Sete léguas carregando uma cruz, pela reforma agrária e contra a exploração do homem pelo homem. Para o vigário da paróquia de Santa Bárbara, é satanás disfarçado. Quem será afinal Zé do Burro? Um místico ou um agitador?
[Rosa] Não entendi muito bem o que botaram na gazeta, mas uma coisa me diz que isso não é bom.

Depois de um tempo, a polícia já estava no caso, por fim, o homem que só queria pagar uma promessa, já era acusado de ser líder comunista, terrorista, de ter ameçado o padre e querendo invadir a igreja. Fim de gente assim, morte em praça pública. Virou mártir
Assim termina a história de Zé, um zé-ninguém que virou ameaça para políticos e religiosos. Parece absurdo? Não, há muitos que sofrem injustiças, não são compreendidos, a imprensa deturpa as informações, o marketing político e religioso oprimem as mentes, mas estamos muito ocupados e cegos para dar conta de tudo isso.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Copacabana



Assisti ao filme francês "Copacabana", com a diva Isabelle Huppert. Um daqueles filmes que me deixa encucada no papel de mãe.
Babou (Isabelle) é mãe da Esme, uma mulher não convencional, espalhafatosa, usa umas maquilagens exageradas, passou a vida mudando de casa e de país, não leva a vida tão a sério. Sua filha está namorando, prestes a se casar, mas tem vergonha de chamar a mãe para o casamento porque ela só apronta.
Babou tem um sonho, conhecer o Brasil, escuta música brasileira o tempo todo, arruma um emprego para ajudar a filha com o casamento e para fazer a viagem dos sonhos, no emprego ela se dá super bem, mas acaba aprontando, é traída pelos puxadores de tapetes. Conhece um cara legal, mas ele não é mais importante que a viagem dela, ele fica chateado porque queria que ela fosse mais presente. Mas ela é muito desencanada, deve ser de sagitário. lol
Refletindo sobre mim mesma, porque a carapuça serviu, sinto como a Babou, mudo de emprego, de casa, de país, estou pouco me lixando para roupas, tenho piercings, tattoos e esmaltes com cores "chegay". Às vezes acho que meu filho queria ter uma mãe mais normal, que tivesse carro, porque me recuso ter um, sou eco-chata, que eu fosse como as mães dos colegas dele, aquelas velhas comportadas, de chapinha, loira, no salto e com bronzeamento artificial. Eu sou toda descabelada, chego esbaforida, procurando os óculos, o celular, mas sou meiga quando quero, também posso parecer normal. Quando o Sam fala: menos mãe! Eu percebo que estou exagerando. Devo confundir a cabeça do bichinho, um dia escuto viola caipira, no outro canto gregoriano, no outro estou pop. Tem dias que falo francês, tem dias que falo inglês, tem dias que acredito em deus, em buda, astrologia, em ET, no outro sou cética.
O ruim de ser assim é que quando eu falo sério o povo acha que é brincadeira. As pessoas que tenho contato por e-mail no trabalho, imaginam que sou uma mais velha, mais séria, quando me conhece, perguntam: Você é estagiária? Ou se não se espantam: Nossa, você que é a Ana? Com uma cara de frustração. Querem que eu seja mais séria no vestir, porque eu sou comportada, faço meu serviço direito e depois de um tempo até me acham inteligente. Uma vez uma chefe não dava nada por mim, até que um dia ela estava falando merd* e eu sabia do assunto, fui lá salvei a pele dela, ela ficou orgulhosa de mim, ficou espantada em ver minha desenvoltura, eu não sei fazer muito meu marketing pessoal, chego com uma cara de blasé e ninguém me leva a sério de imediato.
Chego na casa da minha irmã, a primeira coisa que ela fala para meu sobrinho de um ano e pouco: Chegou sua tia maluca. Vou no dentista e ele fala que eu pareço a Amelie Poulain atrapalhada, meu melhores amigos fizeram filosofia, letras, a gente tem um papo que ninguém entende.
Eu sou a tia maluca, mas sou responsável, meu serviço está em dia, estudei mais que todo mundo da minha família e ainda estudo, nunca parei, pago minhas contas, deixa eu ser eu, pelo menos isso, vai? Não tente me entender que não vai dar certo, só tente estar ao meu lado para o que der e vier.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A peça didática de Baden-Baden sobre o acordo - Brecht

"A peça didática de Baden-Baden sobre o acordo" é como uma continuidade do "Voo sobre o oceano", por isso recomendo, para quem não acompanha o blog e não leu, vai lá ler primeiro o "Voo"  e depois volta para cá.
Para quem já leu, continuemos então:
São três mecânicos e um aviador acidentados, eles estão contentes em saber que os aviões estão melhores, apesar dos acidentes que acontecem de vez em quando, eles não querem morrer, mas ninguém está preocupado com eles e sim com a continuação em criar máquinas ainda mais potentes e seguras.

INQUÉRITO PARA SABER SE O HOMEM AJUDA O HOMEM

Primeiro inquérito

O lider do coro se adianta - Um de nós atravessou o mar e descobriu um novo continente, mas muitos depois dele. Lá construíram grandes cidades com muito esforço e inteligência.
Coro retruca - Nem por isso o pão ficou mais barato.
O lider do coro - Muitos de nós meditaram sobre o movimento da Terra ao redor do Sol, sobre o mais íntimo do homem, as leis gerais, a composição do ar e sobre os peixes abissais. E descobriram grandes coisas.
Coro retruca - Nem por isso o pão ficou mais barato. Pelo contrário, a miséria aumentou em nossas cidades, e já há muito tempo ninguém sabe o que é um homem. Por exemplo: Enquanto vocês voavam, rastejava pelo chão algo semelhante a vocês, não como um homem!
O lider do coro dirigindo-se à multidão - Então o homem não ajuda o homem?
A multidão responde - Não!


A RECUSA DA AJUDA



Multidão lê para si mesmo - Certamente vocês já observaram a ajuda em mais de um lugar, sob diferentes formas, gerada por um estado de coisas que ainda não conseguimos dispensar: A violência. Contudo, nós aconselhamos a enfrentar a cruel realidade com uma crueldade ainda maior. E, abandonando o estado de coisas que gera a necessidade, abandone a necessidade. Portanto, não contem com ajuda: Recusar a ajuda supõe violência. Enquanto a violência impera, a ajuda poderá ser recusada. Quando não mais imperar a violância, a ajuda não será mais necessária. Por isso, em vez de reclamar ajuda, é preciso abolir a violência. Ajuda e violência constituem um todo, e é este todo que é preciso transformar.

O ACORDO
O coro dirigindo- se aos três mecânicos acidentados - Morram sua morte como têm realizado seu trabalho, revolucionando uma revolução. Morrendo, não se preocupe com a morte, mas recebam de nós a tarefa de reconstruir nosso avião. Comecem! A fim de voarem para nós, aonde precisarmos de vocês e no momento em que for necessário.
E lhe pedimos: Transformem o nosso motor e aperfeiçoem-no, façam aumentar a segurança e a velocidade.

Como mencionado no comentário que fiz sobre a peça "Voo sobre o oceano", o homem não se preocupa com o homem, se os mecânicos estão acidentados, quem se importa? O importante é saber se o voo vai continuar com mais segurança. É muito visível nos dias de hoje, se um trem descarrilha, ninguém quer saber se tem pessoas feridas, começam a xingar porque o próximo trem não virá, a pessoa terá que procurar outro meio de transporte. A vida hoje não vale um tostão, o imediatismo está em se orgulhar do progresso, da rapidez, do valorizar as coisas e humilhar as pessoas. talvez Brecht quisesse que seus textos fossem um meio de reflexão e mudança, mas infelizmente tenho uma má notícia, não tenho esperança de ver a valorização da raça humana, pelo contrário, a cada dia as pessoas estão mais egoístas, intolerantes e solitárias. Já cantava Lulu Santos:
Assim caminha a humanidade
Com passos de formiga
E sem vontade...

domingo, 19 de junho de 2011

fim de semana com fotos

Vou tentar entrar para o desafio de fotografar o fim-de-semana, vou ver até quando aguento porque nem sempre saio com câmera, ou se saio com ela, demoro para baixar, portanto seguem as fotos dos 3 últimos finais de semana.

 4 de junho:
Fomos na churrascaria da Heitor Penteado e passei na escola que estudava porque lá tem eventos no fim-de-semana e o pessoal estava dançando maracatu.
clique na imagem para ver maior
Fotografei os grafittis
 11 de junho:
Encontramos o Pirata perto do Teatro Municipal. O Sam saiu na foto com ele. rs

Grafittis da R. Augusta

Exposição do Escher:

Centro Cultural Banco do Brasil - SP. Quando vc olha para cima, vê assim
I can see the death in your eye
Anamorfia
Se olhar as coisas, dependendo da perspectiva, elas se deformam, nem tudo é como parece, veja de outro ângulo, veja de um côncavo, o país das maravilhas existe

sábado, 18 de junho de 2011

O voo sobre o oceano - Bertold Brecht

Escolhi mais uma peça de Brecht para o Desafio Literário, "Voo sobre o oceano" é uma peça radiofônica, baseada no voo de Lindbergh, um fascista que manteve estreitas relações com os nazistas e desempenhou um papel bastante ambíguo nos EUA. Brecht omitiu o nome de Lindbergh por: "Meu nome não interessa", pois ele queria mesmo mostrar o homem alcançando alturas, construindo máquinas potentes e esquecendo de olhar para o próximo que está rastejando.



IDEOLOGIA

Os aviadores

Muitos dizem que os tempos são velhos, mas eu sempre soube que vivemos num tempo novo. [...]
Corre a notícia: o imenso e temível oceano não passa de um pequeno lago.
Agora sou o primeiro a sobrevoar o Atlântico, mas estou convencido que amanhã mesmo vocês rirão do meu voo.

mas esta é uma batalha contra o que é primitivo e um esforço para melhorar o planeta, semelhante à economia dialética que transformará o mundo desde sua base. Portanto, lutemos contra a natureza até nos tornarmos naturais.

[...] Pois a humanidade se divide em duas: Exploração e Ignorância [...]

Mesmo nas cidades melhoradas ainda prevalece a desordem, que nasce da ignorância e se parece com Deus. Porém, as máquinas e os operários a combaterão. E vocês devem participar da luta contra o que é primitivo.

DURANTE O VOO OS JORNAIS AMERICANOS NÃO CESSAM DE FALAR SOBRE A SORTE DOS AVIADORES

Quando aquele que tem sorte sobrevoa o mar, as tempestades se retraem,
se as tempestades não se retraem, o motor aguenta,
se o motor não aguenta, o homem aguenta,
se o homem não aguenta, a sorte aguenta.
Por isso acreditamos que o homem de sorte chegará

Quem espera alguém?
E mesmo aquele que ninguém espera precisa chegar. A coragem não é nada, chegar é tudo.

RELATÓRIO SOBRE O QUE AINDA NÃO FOI ALCANÇADO

RÁDIO E AVIADORES - No tempo que a humanidade começava a se conhecer, nós construímos veículos com madeira, ferro e vidro, e atravessamos os ares voando. Por sinal, a uma velocidade superior em mais de um dobro de um furacão. E na verdade, os nossos motores eram mais fortes que cem cavalos, mas menores que cada um deles.
Durante mil anos, tudo caiu de cima para baixo, com exceção dos pássaros. Nem mesmo nas antigas pedras encontramos qualquer indício de algum homem tenha atravessado os ares voando, mas nós erguemos, próximo ao fim do 3º milênio de nossa era, ergue-se ingenuidade de aço, mostrando o que é possivel, sem nos deixar esquecer: O QUE AINDA NÃO FOI ALCANÇADO.  A isto dedico este relato.

PS: Depois do voo sobre o oceano, o homem já foi à lua, conquistou o universo, os voos estão mais longínquos e ainda estamos nos esquecemos do que precisa ser alcançado, a igualdade, a fraternidade, a tolerância, a igualdade social. A ciência evolui  a passos tão rápidos quanto a velocidade da luz, mas ainda o homem não entende o homem, o homem massacra o homem, o homem odeia o homem. Gasta-se milhões para descobrir o que há espaço sideral, milhões para financiar guerras, mas nunca tem dinheiro para matar a fome da criança, erradicar doenças curáveis, salvar o meio ambiente da destruição. Se o governo propõe ajuda financeira aos miseráveis, os pagadores de impostos não se conformam, quer mais que o miserável morra, investir em estradas, carros, trens, meios que transportam o homem mais rápido para onde ele nem sabe se quer ir, isso sim é levado em consideração.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A ópera dos três vinténs - Bertold Brecht

Brecht foi um dramaturgo, encenador e poeta alemão, recusou o teatro dramático aristotélico e defendeu o teatro épico e os seus princípios de distanciação. Propôs uma nova escrita dramática, um novo cenário e uma nova técnica de interpretação do ator.
Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade. Brecht tem plena consciência do que pretende fazer. Usa o materialismo dialético da maneira mais sábia para a revolução estética que se dispôs a promover na poesia e no teatro. [Edmundo Moniz]
Meu primeiro contato com Brecht foi lendo a "Antologia Poética". No teatro, assisti a alguns espetáculos da Cia. do Latão, fiquei vislumbrada com a peça "O círculo de giz caucasiano", depois assisti "Mãe coragem", com a atriz Maria Alice Vergueiro, para mim, uma das maiores damas do teatro brasileiro. Assisti a um ensaio do "Voo sobre o oceano" e "A peça didática de Baden-Baden sobre o acordo". Também assisti a um documentário sobre a vida e obra dele. Deu para perceber que curto muito tudo isso. Agora quero a coleção de livros "Bertold Brecht - Teatro Completo, em 12 volumes", tenho só o volume 3, de onde escolhi o texto para colocar aqui no Desafio Literário.
A ópera dos três vinténs é uma peça inspirada na “Ópera do Mendigo” de John Gay e também inspirou Chico Buarque a escrever "A ópera do Malandro"
Personagens: Macheath, ou Mac Navalha, um anti-herói, ladrão perigoso e procurado pela justiça, bígamo e frequentador de puteiros, tem uma gangue de ladrões que o ajuda fazer o trabalho sujo.
Jonathan Peachum, burguês, dono da firma "O amigo do mendigo", casado com Célia Peachum e pai de Polly, a filha tratada a leite ninho, como uma boneca, mas se apaixona pelo bandido.
Brown - supremo chefe da polícia de Londres, é amigo do Mac Navalha, aceita suborno.

[Peachum] A lei foi feita única e exclusivamente para explorar aqueles que não a entendem ou que, por pura necessidade, não podem cumpri-la. E quem quiser receber sua parte nesta exploração tem que agir rigorosamente dentro da lei.

O policial Brown é amigo do bandido, mas quando o pai da mocinha pede a ele para prender o bandido, ameaçando a sua reputação, ele trai o bandido.
O bandido também procura refúgio no puteiro, mas as prostitutas aceitam o suborno do pai da menina e entregam o Mac Navalha. Ou seja, ele depende de todo mundo, todo mundo acaba traindo-o pelas costas, mas ele sempre dá um jeito de ter todos na mão.
O teatro de Brecht tira os mocinhos do papel de protagonistas, coloca os bandidos, não tem intenção de fazer um teatro moralista, mostra como a sociedade é hipócrita na cara dura e o final não se pode esperar a redenção ou arrependimento, afinal, uma vez malandro, sempre malandro.
Um dos três finais desta peça, a rainha perdoa os crimes de Mac Navalha:

[Brown] Por motivo de coroação, Sua Majestade, a Rainha, ordena que o capitão Mactheath seja imediatamente libertado. Aplausos entusiásticos. Ao mesmo tempo, ele será elevado à categoria de nobre hereditário - júbilo - e receberá o castelo de Marmarel, bem como uma pensão de dez mil libras até o fim de sua vida.

A arte imita a vida, sabemos que os maiores ladrões são políticos e empresários, sonegadores de impostos, enriquecem ilicitamente e ainda ganham todo conforto. É um das peças de cunho político-social, que denuncia uma sociedade sem ética, sem princípios e amoral, que protege o bandido e humilha as pessoas que trabalham honestamente e não têm direito a nada. É tão atual, não?

Para terminar de forma mais alegrinha, segue abaixo a letra da música "Viver do amor", do Chico Buarque, feita para a Ópera do Malandro.


Viver do Amor Chico Buarque
1ª versão (Para a peça Ópera do malandro 1977-1978)

Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
como um funcionário
Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador
Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor, eu bem sei
Já provei
E é um veneno medonho
É por isso que se há de entender
Que o amor não é um ócio
E compreender
Que o amor não é um vício
O amor é sacrifício
O amor é sacerdócio
Amar
É iluminar a dor
como um missionário




sexta-feira, 10 de junho de 2011

Desafio Literário: Vestido de noiva

Li mais uma peça para o Desafio Literário: Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, o nosso anjo pornográfico, soube escancarar "A vida como ela é", revelou os pecados íntimos de uma sociedade que quer parecer o que não é. O azar de Nelson, de Machado de Assis e de Gláuber Rocha foi terem nascido no Brasil porque em qualquer lugar do mundo eles seriam repeitados e estariam no topo dos the best ever da dramaturgia (Nelson), do cinema (Gláuber) e da literatura (Machado). Parece que Deus não dá asa a cobra mesmo.

Vestido de Noiva é uma peça de cunho psicológico, é dividida em três planos: da realidade, da alucinação e da memória.
No plano da realidade, Alaíde é atropelada por um carro e está na mesa de cirurgia. No plano da alucinação, ela encontra com Madame Clessi, uma prostituta que antes de morrer, morou na casa que a família de Alaíde foi  morar posteriormente e deixou seus pertences no sótão. Alaíde começou a ler o diário da mulher, uma forma de se libertar de uma opressão sexual feminina que era muito comum na época.
No plano da memória, Alaíde tenta lembrar o que aconteceu antes do acidente, lembra que roubou o noivo da irmã (a mulher do véu) e elas discutem a relação no dia do casamento. Na verdade, Alaíde queria estar no lugar de Lucia, casando-se com Pedro, ela confunde a realidade. No final, Alaíde e Madame Clessi (ambas já mortas) entrega o buquê à Lucia. Por fim, Alaíde é Lúcia e Madame Clessi, três mulheres em uma, o id, ego e superego, o amor, a loucura e a morte. A sedução, a repressão e a agonia.


Essa história me lembra também a "Noiva Cadáver", de Tim Burton. A noiva que queria um noivo para realizar seu sonho, mesmo morta, ela estava presa no mundo, encontra o Victor, um cara tímido, medroso, mórbido e desajeitado, está noivo da Victoria. A noiva cadáver, move a terra dos mortos e dos vivos para realizar seu sonho, mas o amor dela é mais racional e menos egoísta, ela consegue se libertar das amarras e vai para um plano onde ela é livre como borboleta.
Coincidentemente, assisti ao filme francês "À la folie.. pas du tout" (Na loucura... de jeito nenhum), em português foi traduzido como "Bem me quer, mal me quer", com a eterna Amelie Poulain, a Audrey Tautou. O filme também é de cunho psicológico, uma estudante de artes plásticas se apaixona por um médico cardiologista, seu vizinho e tem até um vestido de noiva.
Angelique, tão ingênua, apaixona-se por um médico cardiologista sem coração, o Dr. Loïc, como é possível? Ele é casado, sua mulher está grávida e fica iludindo a doce artista, vai largar a mulher para ficar com ela, vão fazer uma viagem para Florença. Opa, pára tudo! O filme começa de novo, caí na pegadinha, sempre caio nessa, mas nos filmes de David Lynch, oras! Quer dizer que a Angelique é diabolique? E Dr. Loïc é uma vítima? Entendi, Angelique é Alaíde, transforma o amor em alucinação, confunde as coisas. Foi preciso interná-la e com os medicamentos que dão à ela, ela constrói um altar em homenagem a Loïc.
Cena de Angelique com o psiquiatra:

Há um mundo na minha cabeça diferente do mundo real. Um mundo em que Loïc me ama e me protege.Um mundo em que ele está ao meu lado, sempre. Hoje eu sei que esse mundo não existe, que foi uma ilusão, fruto da minha imaginação. Todo mundo sonha em viver um grande amor. Eu apenas sonhei mais forte do que os outros.

Declaração de Angelique:

"Embora meu amor seja insano, minha razão alivia a dor intensa do meu coração dizendo-lhe para ter paciência e não perder a esperança.
Uma erotomaníaca internada por mais de 50 anos."


Eu, sinceramente, tenho paúra de vestido de noiva, nunca quis casar com cerimônia religiosa, embora seja o sonho de muitas mulheres, nunca foi o meu. Não sei se é porque qualquer tipo de ritual me assusta, batizado, 1ª comunhão, essas coisas são muito estranhas para mim, vejo a pessoa como vejo uma ovelha vulnerável indo ao matadouro, como se fosse um espetáculo macabro para a satisfação do público. Como se o ritual fosse garantia de felicidade. Em todo caso, sempre tenho opiniões esquisitas. Não se assustem! Podem casar em paz!

domingo, 5 de junho de 2011

Desafio literário: Peça teatral - Missa Leiga - Chico de Assis

Escolhi essa peça porque admiro profundamente o Chico de Assis, sagitariano, rebelde, de esquerda, alguém que quando abre a boca, te hipnotiza, fiz aulas de dramaturgia com ele no Teatro Sérgio Cardoso, não tinha pretensão de escrever para teatro, mas adorava as aulas só para ouvir "os causos" do grande mestre. Para mim, ele é um grande gênio brasileiro que o Brasil não reconhece, pois não não valoriza o teatro, muito menos quem escreve para teatro.
Missa Leiga, nas palavras do Chico, é uma oração pelo destino do homem e do mundo. Entre conhecer o homem e Deus, temos mais oportunidade de conhecer a humanidade. Eu assisti à peça, mas não tinha lido o texto ainda. Segue abaixo alguns fragmentos que me deu preguiça de digitar, mas valeu a pena.

Cena 4: Despojamento 
Corifeu
É possivel que o homem fosse criado para ser abandonado?
É possivel que o criador deixasse o homem de lado por causa do pecado?
É possível que o sofrimento esteja nos planos de Deus?
É possivel que a angústia seja um mandado divino?
É possível que a violência seja um acordo entre Jeová, Senhor dos exércitos, e a humilde condição humana?
É possivel que a dor e a fome sejam um legado da onipotência?

Cena 5: O sacrifício
Ator 1: Quem está disposto a ser traído? Não por um estranho, mas pelo seu melhor amigo?

Cena 20: Encerramento

Corifeu
Sermão secular e leigo que procede o encerramento dessa missa. Nos acostumamos à morte e ao genocídio como adquirimos vícios gerais, como fumar e beber. Estamos resistentes e intoxicados a qualquer notícia. Esperamos, como num jogo, ser personagem da tragédia. Aí então, nos desesperamos e tomamos providências. Aí então, gritamos, mas ninguém nos ouve porque o ar está poluído de berros lancinantes. Aí então, tentamos explicar o mal do mundo, mas ninguém nos ouve, ninguém tem ouvido para essas coisas.
Somos vítimas sintomáticas do nosso desinteresse pela vida, pela nossa apropriação sôfrega das migalhas e farrapos da alegria, sobradas do contínuo festim da violência.
A solidariedade humana é uma doutrina de condenados à morte, imediatos. O amor é o privilégio dos que vivem sob o risco da vida, nos andaimes do mundo, sob a marca da fatalidade planejada, marginal, debaixo das ordem de guerra e destruição. Quem entende de perigos é o equilibrista.
Quem sabe da felicidade é o recem-afogado no mar. Certas facilidades de sobreviência egoístas e pessoais castram no homem sua sensibilidade geral. A notícia do mundo é tão tragicamente forte que a humanidade devia chorar e se afogar num antidilúvio de lágrimas ou então refletir em formas de tortura, repensar as várias modalidades de assassinato, mastigar a fome e engolí-la sem água. O homem está calmo e feliz à esperam que invadam a sua casa, atirem sobre seu filho e violentem sua mulher.
Isso já aconteceu, só falta perceber esta humanidade contraditória, esta procura por seres abandonados à sua própria sorte por entre pedaços de corpos. Vamos escolhendo veredas que nos levem a todos, ao encontro do melhor lugar, onde será feita a nossa seara de sangue. É preciso começar alguma coisa que liberte a vida, que não limite o conhecimento pelas grades dos sentidos: olhos, ouvidos, olfato, tato e sonho.
Só uma consciência em cacos entende um mundo despedaçado. Só um ser inacabado e abandonado tem terror do finito e do infinito. É preciso seres desiguais e concordantes ao invés de iguais e discordantes. E isso já basta para uma nova forma de amor.

Corifeu
Deixa que eu seja como a flor do mato, semeada pelo vento ao sabor do acaso, Senhor!
Deixa que eu seja como o riacho louco que desenha em curvas inúteis sua própria estrada, Senhor!
Deixa que eu seja como a ave que acaba de aprender a usar as asas, mas não sabe para onde voar, apenas voa, Senhor!
Deixa que eu viva em constante amor sem poder saber nunca o que é o amor.

GRUPO 1: Vamos afastar do altar divino
GRUPO 2: Com as mãos limpas e lavadas e no rosto uma aparência de paz!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Caramel

 

Caramel é um filme super fofo e feminino, da diretora Nadine Labaki. Tudo acontece em um lugar que adoramos, salão de beleza. E salão é igual no mundo inteiro, esse é no Líbano, mas as histórias das mulheres são iguais às nossas. O filme tem altos papos de salão, mas não são assuntos efêmeros, mostra o lado humano de cada uma das funcionárias. Uma é apaixonada por um homem casado, arruma encontros com ele, está sempre acessível, atende chamadas na hora do expediente e vai atrás, ela é ingênua e acha que ele vai deixar a mulher por causa dela, ele é muito grosso, egoísta e canalha. A outra gosta de mulher, nota-se que ela é apaixonada por uma cliente que de certa forma corresponde. A outra vai casar e não pode contar para o marido que não é mais virgem e vai fazer cirurgia de reconstrução de hímen com o apoio das colegas. A outra não quer ficar velha, vai fazer testes para tv e acha que está na altura das meninas jovens e lindas. Também tem a vizinha do salão que é costureira e tem uma mãe velhinha e doidinha, ela se apaixona por um cliente, mas não leva adiante porque ela é a única que cuida da mãe. Entre manicures, depilação e cortes de cabelo, salão nada mais é que um lugar de terapia, você vai conversar com alguém, encontrar pessoas cheias de problemas e seus pecados íntimos, mas que estão unidas para enfrentar a vida emperiquitadas e de salto alto. Por isso digo, faça terapia no salão, além de sair linda de lá, gasta bem menos que em terapias convencionais, lá elas te entendem, já passaram pelo mesmo que você, vai te dar dicas, conselhos sobre tudo, é lá que estamos aprendendo a dominar o mundo.
 Para terminar, vou colocar a letra de música "Salão de beleza", do Zeca Baleiro.
Se ela se penteia
Eu não sei!
Se ela usa maquilagem
Eu não sei!
Se aquela mulher vaidosa
Eu não sei!
Eu não sei!
Eu não sei!...

Vem você me dizer
Que vai num salão de beleza
Fazer permanente
Massagem, rinsagem, reflexo
E outras "cositas más"...(2x)

Oh! Baby você não precisa
De um salão de beleza
Há menos beleza
Num salão de beleza
A sua beleza é bem maior
Do que qualquer beleza
De qualquer salão...

Mundo velho
E decadente mundo
Ainda não aprendeu
A admirar a beleza
A verdadeira beleza
A beleza que põe mesa
E que deita na cama
A beleza de quem come
A beleza de quem ama
A beleza do erro
Puro do engano
Da imperfeição...

Belle! Belle!
Como Linda Evangelista
Linda! Linda!
Como Isabelle Adjani...(3x)

Veja como vem!
Veja bem!
Veja como vem
Vai! Vai!

Aí! Bela morena
Aí! morena bela
Quem foi que te fez tão formosa?
És mais linda que a rosa
Debruçada na janela...(2x)