segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O médico e o monstro - RL Stevenson



Para o Desafio Literário do mês de agosto, li "The strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde", em português traduzido como "O médico e o monstro", de Robert Louis Stevenson, é um conto de terror, assim como o "Olalla" que falei anteriormente.
Dr. Jekyll é um médico que, ao contrário do que muita gente pensa, ele não sofre de Transtorno de dupla personalidade ou como também é chamado, Transtorno dissociativo de identidade, mas sofre de Transtorno psicótico induzido por substância. Com o uso contínuo da droga, assume um outro comportamento, assim como todos os usuários de substâncias psicotrópicas, alucinóginas, entre outras. Ele torna-se dependente químico e quando a droga não faz mais o efeito desejado, aumenta a dose.
Era um homem na casa dos 50 anos, grande, forte, todos os traços revelavam sua capacidade e bondade. Embora fosse considerado um 'cidadão de bem', com uma boa profissão e reputação, ele sentia um vazio existencial, sua condição era boa para agradar a sociedade e não para agradar a si próprio, com o uso da droga toda a repressão e pressão que ele sofria eram dissipadas, ele encontrava a liberdade e o prazer, mas, como sabemos, os efeitos colaterais são muitas vezes devastadores. No caso dele, tranformava-o em uma pessoa violenta e hostil, uma criatura deformada, com uma palidez mórbida, uma voz assustadora, etc.
Curiosidade: A primeira vez que a Scotland Yard, policia metropolitana de Londres, foi citada na literatura, foi neste conto.
Vamos ao resumo:
Um advogado londrino, Dr. Utterson, investiga o que ocorre na casa de seu amigo Dr. Henry Jekyll e procura saber quem é Edward Hyde a quem Dr. Jekyll dedicou seus bens em seu testamento.
Hyde é um joguinho com a palavra "hide"= escondido, o lado negro da força do Dr. Jekyll.
"Deus que me perdoe, mas esse homem nem parece humano! Diria que se parece antes com um troglodita. Oh, meu pobre e velho amigo Jekyll! Se alguma vez vi num rosto a marca de satanás foi com certeza no do teu amigo."
Dr. Jekyll explicando sua crise existencial, como se sentia quando estava sob o efeito e quando estava "limpo".
Eu era o mesmo quando, abandonando toda a moderação, atirava-me para os braços da desonra ou quando trabalhando à luz do dia, promovia a ciência para aliviar a dor e o sofrimento.
No fim o homem será reconhecido como um ser habitado por seres múltiplos, incongruentes e autônomos.
Aprendi a reconhecer a primitiva dualidade do homem na minha própria pessoa. As duas naturezas que lutavam na minha consciência eram minhas porque eu era em essência ambas.
A droga não tinha capacidade discriminatória, não era nem diabólica, nem divina, apenas abria as portas do cárcere do meu âmago.

Não quero ser moralista, nem demonstrar juizo de valor algum, é um assunto muito delicado, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Nem tudo o que faz bem para alma, faz bem ao corpo. Essa é a válvula de escape de muitos, para outros é a bebida, a compulsão por sexo, os jogos de azar, a religião, etc. É difícil para o usuário, para família, para os profissionais da área de saúde mental. Cada um reconhece seus monstros, uns sabem domá-los e mantê-los adormecidos, outros são vencidos por eles, isso pode acontecer com qualquer um, independe de classe social. Sabemos o quão dificil é ser "humano", termos que lidar com outros humanos tão problemáticos quanto, adaptarmos ao meio da forma mais confortável possível, nem todos dão conta e não podemos ser intolerantes com eles.
Livro: O médico e o monstro; Olalla; O tesouro de Franchard. 207 págs. Ed. Amadora Ediclube. Tradução: Jorge Pinheiro
Para quem gosta de refletir sobre este assunto, já falei do livro com o tema "O Asilo Arkham: A psicopatologia dos vilões de Gotham City".

Outros livros lidos para o Desafio do mês de agosto:
Olalla,de Robert Louis Stevenson
O corvo, de Edgar Allan Poe

É isso!

sábado, 25 de agosto de 2012

O corvo - Edgard Allan Poe, traduçao Machado de Assis

Para o Desafio Literário, li também "O corvo", de Edgar Allan Poe, traduzido por Machado de Assis e vou postá-lo completo. Onde moro tem muitos corvos, são aves carniceiras que segundo os mitos, são portadoras de agouros e más notícias, simbolo da morte e da bruxaria. Emitem um barulho que lembra um grito de desespero e um choro. Eu observo-os e gosto, ficam mais interessantes no outono, quando caem as folhas das árvores, o dia fica cinzento e chuvoso, os corvos combinam com este cenário de filme de terror, é o período em que as pessoas entram em depressão por esses lados de cá, tanto que novembro é também chamado "o mês da morte" porque não é frio suficiente para nevar e nem quente o suficiente para sair o sol.
meu marcador de página é uma pena de corvo

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

Tem a traduçao do Fernando Pessoa também, googleia e divirta-se.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Desafio literário: Olalla

O tema do Desafio literário do mês de agosto é terror: Li o conto "Olalla", de Robert Louis Stevenson. Classificado como conto gótico ou de terror, ou ainda, como dizem os franceses, conte noir. Narra a história de uma jovem que sacrifica seu amor para não perpetuar sua herança genética maldita e degenerada. Embora em nenhum momento seja usado o termo "vampiro", fica nítido o clima vampiresco no comportamento da família. A loucura, a histeria e um possível incesto entre a mãe e o avô/pai de Olalla, já que ninguém sabe ao certo quem é o pai das crianças.  São temas "tabus", mas que foram acoplados na obra de forma sutil. Vamos ao resumo:
O médico aconselha um jovem soldado a passar dois meses no campo, lugar de ar puro e tranquilidade. Com a ajuda de um pároco local, o soldado arruma hospedagem na casa de uma família espanhola importante (mãe, filho e filha), porém na beira da ruína.
Médico: "O ar dessas montanhas renovar-lhe-á certamente o sangue."
Sobre a mãe:
A mãe é a última representante de um estirpe principesca que degenerou tanto no seu aspecto humano como na sua fortuna.
O pai era louco, ela casou-se sabe lá Deus com quem e teve Felipe, um patego, tosco, rústico e simplório. Se fosse definir uma psicopatologia para ele, seria um retardado mental. Já a filha Olalla era dotada de uma beleza e inteligência fora dos padrões de sua família.
A mãe tinha repulsa pelo filho, conforme consta no texto, tratava a filha com um certo desdém, era meio apática, meio preguiçosa, mas era sensual e sedutora.
Sobre a histeria da mãe na visão do soldado:
Saltei da cama pensando estar sonhando, mas os gritos continuavam a encher a casa. Gritos de dor, pensei, mas também de raiva, tão selvagens e dissonantes que me despedaçava o coração. Não se tratava de uma ilusão, algum ser vivo, algum louco ou animal selvagem estava sendo torturado.
Sobre Olalla quando o soldado a viu pela primeira vez:
A emoção da sua jovem vida que que vibrava como a de um animal selvagem tinha entrado em mim. A força de sua alma que lhe havia assomado aos olhos, tinha conquistado a minha, envolvendo o meu coração, fazendo brotar uma canção dos meus lábios. Tinha-se metido no meu sangue, fazendo dois um todo único.
 Provável herança genética de histeria: 
Quando adverti para o fato de Eulália parecer silenciosa, a única coisa que fez foi rir-se-me na minha cara. 
Vampirismo da mãe:
 Cortei-me, um golpe bastante profundo. Olhe - e levantei a mão ferida sempre a gotejar. Era como se um véu lhe caísse do rosto, deixando-o fortemente expressivo, e no entanto, insondável. Quando ainda me encontrava surpreendido pela sua agitação, curvou-se sobre mim, dobrou-se sobre a minha mão e pegou nela. Um instante depois, levava-a à boca e mordia até o osso. Afastei-a fortemente, mas ela voltou a lançar-se sobre mim dando gritos bestiais.
 Quem gosta deste tipo de literatura, vai adorar ler para saber o final deste conto e ainda por cima, ler outros do mesmo autor. O próximo post será de uma outra obra dele, "O médico e o monstro".
 O livro que li é uma edição de Portugal: O médico e o monstro; Olalla; O tesouro de Franchard. 207 págs. Ed. Amadora Ediclube. Tradução: Jorge Pinheiro

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Ensaio sobre a Lucidez

Terminei a leitura de mais um livro de José Saramago, "Ensaio sobre a lucidez", é continuação de "Ensaio sobre a cegueira".
A trama começa em uma assembleia eleitoral, chovia torrencialmente a ponto de duvidarem que alguém fosse votar e postergaram o dia da eleição. Após a apuração dos votos, a grande surpresa, o p.d.e e o p.d.d ( partido de direita e partido de esquerda) tiveram cada um 8% dos votos e no geral, 83% de votos brancos. Por causa desta atitude de 'desobediência' civil, é decretado estado de sítio, pois o governo acredita na Teoria da conspiração anarquista, o inimigo está infiltrado no meio do povo, mas ninguém sabe quem é. O governo isola a cidade e retira de lá todo poderio político e militar e passa a investigar à paisana, tentando a qualquer custo encontrar um culpado pela situação, censura os meios de comunicação, prende pessoas suspeitas, mais ou menos como descrito em 1984, de George Orwell, só que na versão saramagueana.
Já que estamos na época de eleições, tanto no Brasil, como aqui no Canadá e o povo está saturado com promessas, o mundo no geral está insatisfeito, os EUA, Japão e europa em crise, o povo está manifestando nas ruas de forma nunca antes vista, mesmo não sendo veiculada nas mídias de longo alcance. Fico pensando o que aconteceria se de repente as pessoas tivessem essa lucidez dos que votaram em branco (os 'brancosos' como são referidos no livro) que impediram o governo de continuar no poder, apesar das consequências. Aqui o voto não é obrigatório, mas acho absurdo um país como o Brasil que sai de uma ditadura que impedia o direito de voto para entrar em uma ditadura de voto obrigatório.
Em todo caso, recomendo a leitura antes das eleições, mire-se no exemplo dos brancosos. Foi o último livro que comprei no Brasil, faz parte da coleção Folha Literatura Ibero-americana, 368 págs, provavelmente ainda tenha nas bancas.
Vamos aos fragmentos:
Os humanos são universalmente conhecidos como os únicos animais capazes de mentir, sendo certo que se às vezes o fazem por medo, e às vezes por interesse, também às vezes o fazem porque perceberam a tempo que essa era a única maneira ao seu alcance de defenderem a verdade. 
Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a quem tem saúde. 
as intenções das pessoas que haviam votado em branco, não eram deitar abaixo o sistema e tomar o poder, que aliás não saberiam o que fazer com ele, que se haviam votado como votaram era porque estavam desiludidos e não  encontravam outra maneira de que se percebesse de uma vez até onde a desilusão chegava, que poderiam ter feito uma revolução, mas com certeza iria morrer muita gente, e isso não queriam, que durante toda a vida, pacientemente, tinham ido levar os seus votos às urnas e os resultados estavam à vista.
É regra invariável do poder que, às cabeças, o melhor será cortá-las antes que comecem a pensar, depois será demasiado tarde. 
O incompreensível pode ser desprezado, mas nunca o será se houver maneira de o usarem como pretexto






domingo, 12 de agosto de 2012

gosto, mas não assumo...

Blogagem coletiva proposta  pelo Volta, mundo blogueiro! Falar do que a gente gosta, mas não saía falando para os quatros cantos, até agora... Poderia estar matando, roubando, mas estou confessando meus pecados. Vamos a minha listinha:

Música:

  • Gosto de músicas consideradas chatas para maioria das pessoas.
  • Gosto de MPB e de um bom samba paulistano.
  • Gosto de "Love songs", era o nome de um programa de uma rádio de São Paulo, só tocava música de elevador, tipo Phil Collins, gente até choro quando toca " Against all odds", cafona total, na verdade essa música me lembra uma época boa da minha vida, não sei se gosto dela ou da nostalgia. Aqui no Canadá também tem uma rádio que toca música do arco da velha, de elevador e romântica, chama Souvenirs garantis (lembranças garantidas), claro que sou ouvinte assídua. Toca uma música do Vicent Vallières, On va s'aimer encore, que fala de envelhecer juntos e continuar se amando, depois que a casa estiver paga, os filhos crescidos. Cafonice elevada ao cubo, mas eu até choro ouvindo.
  • Gosto do James Blunt com aquela voz de taquara rachada cantando "You are beautiful" ou "Goodbye my lover".
  • Por cantar muito tempo em coral, ouço muita música sacra, medieval,ópera, clássica e musicais de cinema e teatro.
  • Banda dos anos 80/90: Bon Jovi  cantando Always e Guns 'n roses, as mina pirava, não escuto mais, mas escutei muito, quando vejo um clip, uma foto deles, meu coração dá uma aceleradinha. Aquele cabelo que eles tinham, as bandanas, hoje é brega, mas na época era ultima moda.
  • Música francesa: é musica pra cortar os pulsos, mas acho so sexy...
Literatura
  • Tem como não amar O Pequeno Príncipe? Já declarei meu amor por ele aqui. Pareço criança, aff!
  • Coleciono fragmentos dos livros que leio.
  • Gosto de ler Marquês de Sade, contos eróticos, achei o máximo o HQ do canadense Chester Brown e hentai.
Fotos inusitadas e nu artístico
  • Adoro fotos bem tiradas e de bom gosto do nu feminino e masculino. Vejo as revistas Playboy do meu marido, a gente comenta sobre a fotografada, o fotografo, o cenário, etc.
  • Gosto de fotos profissionais de pin ups, atletas e de gente tatuada.

Filmes e séries
  • Gosto de musicais e filmes musicados, ainda por cima compro a trilha sonora para infernizar o povo de casa.
  • Filmes do Tinto Brass, cineasta controverso e erótico, aquelas mulheres italianas, peludas, com cara de santinhas.
  • Filme de mulherzinha: se tem Julia Roberts e Meg Ryan ou é baseado nos livros de Jane Austen, assisto mil vezes, decoro até as falas.
  • Tenho sangue "nuzóio", adoro o seriado Dexter e filmes de terror oriental.
  • Gosto dos nerds do The Big Bang Theory e do rabugento do Dr. House.

Outros (des)gostos
  • Gosto de conforto, a palavra mais odiada pela galera do mundinho fashion. Uso crocs - o rosa choque; havaianas -as legítimas, camisetas de time, de banda de rock, de filmes e de frases engraçadas.
  • Eu gosto de fumar, já fumava pouco, 3 por dia, sei que faz mal,vejo aquelas fotos nojentas no maço, tenho um livro de psicologia sobre o tabagismo e todo o blá, blá, blá, só parei pq aqui custa quase R$30, virou objeto de luxo, só muito de vez em quando para comemorar algum acontecimento.
  • Gosto de emoticons ;-) internetês, anglicismos, gírias, neologismos e palavrões.
  • Sou muito chorona, mas ninguém me vê chorar porque sou turrona e não demonstro minhas fraquezas para os outros.
  • Canto em coral, em família, os regentes sempre elogiam minha voz, mas nunca me aventurei cantar solo nos eventos ou no youtube.
  • Odeio ginástica, academia e geração saúde. Única coisa que gosto de fazer é yoga e ser torcedora, torço pro SPFC, pro Hockey, vôlei e contra o corinthians.
  • Acho os caras do CQC uns malas, começaram até bem, depois desandou e não curto stand up comedy, aqui na América do Norte, às vezes dou risada quando é o Chris Rock.
  • Prefiro Pepsi a Coca-Cola.
  • Gosto de grafitti, não me contento em só admirar, tenho que tirar foto desta arte urbana.
  • Não sei nadar, dirigir nem andar de bicicleta e isso não me incomoda nem um pouco.
  • Sou eco-chata, feminista e defensora das causas de minorias.
  • Conto piada sem graça que só eu dou risada.
  • Sou atrapalhada, perco tudo, tropeço toda hora, verdadeiro caos.
Eu sei, pode jogar pedras agora e me odiar pelo resto da vida, shame on me!

domingo, 5 de agosto de 2012

Haïku quebecois


Hoje, vou apresentar à vocês, um pouco da poesia haikai quebequense. Estava na biblioteca e vi o título Quelle heure est-il? (Que horas são?), de Jean Dorval. Eu, que ando ansiosamente preocupada com o tempo, fiquei curiosa, fui xeretar e para minha felicidade, era de haikai. Fiz a tradução livre de alguns, só para vocês terem uma ideia, espero que gostem.


Épilée,
jusqu'a la page blanche
sa peau

depilada
até a página branca
sua pele


en quelques mots fous
là-bas un poète remet
le monde à l'endroit
em algumas palavras loucas
lá o poeta coloca
o mundo do lado certo

rêves
de l'autre côté du miroir
les miens
sonhos
do outro lado do espelho
os meus

paquebot sur son sein
mes doigts sombrent
dans son t-shirt
navio sobre seu seio
meus dedos naufragam
na sua camiseta

après ton depart
les jours rallongent
sur le web
após sua partida
os dias aumentam
na web

couloirs gris
personne ne parle
fumées cosmopolites
corredores cinzas
ninguém fala
fumaças cosmopolitas


lune jaune
à travers les branches
capteur de rêves
lua amarela
através dos ramos
captador de sonhos.

Venus
remet le ciel
au matin
Vênus
entrega o céu
de manha

le vent tourne
les feuilles entrent
en scène
o vento gira
as folhas entram
em cena

En elle
le plis de vague
lit d'eau
Nela
a ondulaçao da onda
cama de água

soir d'automne
au fond du foyer
ce qui brûle en toi
noite de outono
no fundo da lareira
o que queima em você

errante chenille
probablement
parent du monarque
errante lagarta
provavelmente
parente do monarca

des fruits
sur le comptoir
e des pilules
as frutas
sobre o balcao
e as pílulas

bougie
dans le placard
grand brûlé
vela
no armário
grande incêndio

les clés
font la paire
l'adresse est invisible
as chaves
fazem o par
o endereço é invisivel

quelques secondes
jusq'au désir
son parfum
alguns segundos
até o desejo
seu perfume

traces de vin
la maison est vide
les verres traînent
traços de vinho
a casa está vazia
os copos espalham

echo
instrument
d'une voix
eco
instrumento
de uma voz

raconte ce désir
entre les lignes
mille et une nuits
conte este desejo
entre as linhas
mil e uma noites

cycliste
en cuissard noir et blanc
yin yang
ciclista
com bermuda preta e branca
yin yang

doigts de fée
grains de beauté
rosaire
dedos de fada
pintas
rosário

Ja falei de haikai do Paulo Leminski aqui