segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Escritora e diretora: Virginie Despentes (França)

Fotografo: JEAN-FRANÇOIS PAGA
Virginie Despentes (pseudônimo), é escritora, diretora de cinema, tradutora, punk-rockeira, entre outras coisas.
Ela teve um adolescência problematica, aos 15 anos foi internada em um hospital psiquiatrico, aos 17 foi estuprada ao pegar carona, tudo isso foi um choque para ela e é sobre as dores pelas quais passou que serao os temas de suas obras literarias e cinematograficas.
Nos anos 80/90 ela se envolve com o movimento punk, gosta de Joy Division e de Bukowski, abusa do alcool, drogas e sexo, sendo este na forma de prostituiçao e de relaçoes homo e héteroafetivas.
Suas obras sao classificadas como literatura marginal, ou cultura trash, ou contra-cultura, como queira. Os temas recorrentes sao sobre violência, sexo, drogas e muito punk rock.

Cinema

O filme "Baise-moi" foi classificado em alguns paises como pornografico, talvez porque as duas atrizes principais foram atrizes pornôs e porque tem algumas cenas de sexo explicito, mas nada que a gente ja nao tenha visto em filmes como os de Gaspar Noé ou de Pasolini. É um filme underground "road movie", à la Thelma e Louise, as personangens principais sao uma prostituta e uma atriz pornô que pegam um carro e saem por ai fazendo estrago por onde passam, usando a lei da viuva-negra: trepa depois mata.
Achei a premissa bem interessante e diferente, mas acho que o baixo orçamento e as atrizes que nao eram tao boas, deixou o filme meio caseiro, faltou qualidade nas cenas de açao e na interpretaçao.

Em seguida assisti ao filme "Bye bye blondie", tem uma qualidade técnica melhor, atrizes brilhantes como a Emmanuelle Béart, a Béatrice Dalle e a cantora Soko. Sem falar no figurino e nas musicas otimas de punk rock. O filme é baseado no livro homônimo, fala de duas meninas que se apaixonaram nos anos 80 e se reencontram 25 anos mais tarde. Sugiro começar assistir por esse que é bem mais leve que o primeiro.


Ela também dirigiu o documentario "Mutantes: Punk, Porn, Feminism", composto por cerca de 20 entrevistas gravadas nos Estados Unidos, França e Espanha, dá a palavra às ativistas pró-sexo e acompanha a evolução do movimento dos anos 80 até hoje. Infelizmente nao o achei em nenhuma biblioteca daqui, nem em streaming, mas quero muito assistir. Como é dificil achar documentarios e alguns filmes feitos por mulheres, viu. Tem tanta coisa boa que descobri, mas onde encontrar? Nao se acha nem para comprar.


Virginie escritora

Ela tem varios livros publicados, alguns deles viraram filmes, pretendo lê-los mais para frente, mas no momento vou falar do unico que li, o ensaio autobiografico "King Kong Theorie".

Se for para indicar apenas um obra da Virginie Despentes, com certeza é este ensaio. Muitas pessoas nao conseguem ver cenas fortes de violência ou de sexo nos filmes, nao se interessam por literatura underground, nem pelo movimento punk, mas se você se interessam por livros sobre a condiçao feminina, tais como: "O segundo sexo", da Beauvoir ou "Um quarto so seu", da Virginia Woolf, recomendo também este livro, ela nao fala de mulheres que querem ser escritoras, filosofas, intelectuais, ela fala da mulher comum, da mulher do submundo, da mulher indesejavel que esta fora dos "normal standards",  como ela escreveu nas primeiras linhas:
"Eu escrevo no meio das feias, para as feias, as velhas, as caminhoneiras, as frigidas, as mal-comidas, as  "incomiveis", as histéricas e todas as excluidas do grande mercado da mulher gostosa".


Em 2010 eu escrevi aqui o post " Mulher e os monstros" em que eu queria entender a razao pela qual a sociedade em geral odeia os monstros, o porquê dos homens e dos deuses quererem nos afastar deles e por ironia do destino, 6 anos depois, leio neste ensaio o capitulo King Kong Girl que responde ao meu questionamento. O universo nunca nos deixa sem resposta, ela tarda, mas chega melhor do que esperavamos.

Musicas
Criei uma lista no Spotify de algumas musicas tocadas nos filmes da Virginie Despentes. Minhas preferidas sao: Diamanda Galas (canta parecendo que ta possuida), Soko e a Lydia Lunch.


Consideraçoes finais:

Quando comecei a participar dos projetos "Mulheres na direçao" e "Leia Mulheres", nao tinha ideia onde isso me levaria, foi como abrir um novo mundo, posso ouvir outras vozes que quase nunca sao ouvidas. Virginia Despentes me levou a conhecer a mulher no movimento punk, a mulher na literatura underground, o feminismo pro-porn, a conhecer um monte de musicas legais, a conhecê-la como a mulher que faz filmes sangrentos, violentos e eroticos, um campo no cinema explorado majoritariamente pelos homens, mas ela esta ai provando que também pode fazer. É uma voz que precisa ser ouvida e respeitada.

Veja também:
Mulheres na direçao: Malgorzata Szumowska (Polônia)

2 comentários:

  1. Me surpreendi comigo mesmo: porque achei que este texto teria sido escrito por um homem? Estava contente: puxa, um homem transitando e nos passado informações sobre o mundo feminino sob uma ótica bem realista.

    Um homem compartilhou este blog lá no Face e eu, curioso por saber de alguém que se volta "para as feias, as velhas, as caminhoneiras, as frigidas, as mal-comidas, as "incomiveis", as histéricas e todas as excluídas do grande mercado da mulher gostosa"...

    ..."eu queria entender a razão pela qual a sociedade em geral odeia os monstros, o porquê dos homens e dos deuses quererem nos afastar deles e por ironia do destino"...
    É realmente uma dúvida procedente, mesmo assim persegue-se a a(normalidade) da beleza idealizada e muitas vezes anoréxica ou bombada.

    Você escreve bem, sua curiosidade nos leva à outros caminhos, aqueles que não costumam ser frequentados pela maioria.
    Você é bonita; e sua escrita, instigante.

    Obrigado.

    ResponderExcluir
  2. Esse post parece a oitava maravilha do mundo.

    ResponderExcluir