sábado, 30 de julho de 2016

Mulheres na direçao: Haifaa Al-Mansour (Arabia Saudita)

Haifaa Al-Mansour, primeira mulher cineasta da Arabia Saudita
Assisti ao filme O Sonho de Wadjda (2012), dirigido pela  cineasta Haifaa Al Mansour. Trata-se de uma menina de 10 anos que luta contra o patriarcado fundamentalista na Arabia Saudita. Nem vou escrever muito para nao deixar a emoçao falar no lugar da razao, porque o mundo esta longe de ser um lugar seguro as mulheres e isso me deprime.


O sonho de Wadjda era ter uma bicicleta, ela vai tentar juntar dinheiro para compra-la. Passa a vender pulserinhas na escola, mas a diretora confisca-as. Depois participa de um concurso de leitura do corao para ganhar o prêmio em dinheiro. O problema é que la mulher nao pode dirigir, muito menos andar de bicicleta, dizem que elas correm o risco de perder a virgindade ou de serem estéreis.
É muita opressao e pressao, mulher nao pode rir, o homem nao pode ouvir a voz de uma mulher, a mulher tem que se esconder quando vê um homem, tem que usar burka preta. Existe uma policia religiosa que fica de olho no que as pessoas vestem e como se comportam na rua, etc.
O pai dela deixa a mae porque ela tinha problemas para engravidar e quando conseguiu, nasceu uma menina, ou seja, nasceu a Wadjda. Entao ele casa com outra para poder ter filhos homens, pois so eles que herdam bens e fazem parte da genealogia da familia. Tem uma hora que a Wadjda escreve o nome dela na arvore genealogica do patriarcado. Yes, sista!
A mae dela faz de tudo pela familia, nao corta o cabelo porque o marido nao quer, fica fazendo chapinha porque ele gosta de cabelo liso, cozinha, se arruma para ele, mas para variar, ele é um babaca.
Wadjda gosta de tênis all star surrado, de correr com os meninos, de escutar musica, odeia portar o veu, odeia as oraçoes, odeia a obediência cega.
Recomendadissimo! Lembre-se: Nunca vote em politicos religiosos porque ninguém é obrigado a seguir uma religiao imposta. Estado laico sempre!

Minha lista "Mulheres na direçao" no Filmow ja tem 1747 filmes cadastrados e 178 assistidos até o momento.

Veja também:

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Hunger Makes Me a Modern Girl - de Carrie Brownstein (mémorias)

Esta foto minha foi publicada na pagina oficial Our Shared Shelf no Instagram

Este foi o livro escolhido no grupo Our Shared Shelf deste bimestre. Carrie conta sua historia desde à infância até os dias atuais e relata como é fazer parte do grupo de punk rock feminino Sleater-Kinney. Vou deixar abaixo alguns fragmentos do livro. Li na versao e-book Kobo, $18,00 CAN.

Seu pai era um advogado e para ter uma "boa reputaçao" casou-se, teve filhos, passou mais da metade da vida escondendo que era gay e so assumiu depois dos 50 anos. A mae tinha problema de aneroxia e precisou ser internada.

Let our parents be anorexic and gay! That shit is for teenagers. My sister and I would be the adults. We would be conventional, conservative even. Guns, God, country, and my contrarian, reactionary self. (This phase lasted about ten minutes.)

A reaçao da mae dele ao descobrir sua homossexualidade:
When my father came out to his mom, my grandmother said, “You waited for your father to die, why couldn’t you have waited for me to die?” I knew then that I never want to contribute to the corrosiveness of wanting someone to stay hidden.

Perguntas de jornalistas para uma banda feminina:
Why are you in an all-female band? Why do you not have a bass player? What does it feel like to be a woman in a band? I realized that those questions—that talking about the experience—had become part of the experience itself. More than anything, I feel that this meta-discourse, talking about the talk, is part of how it feels to be a “woman in music” (or a “woman in anything,” for that matter—politics, business, comedy, power). There is the music itself, and then there is the ongoing dialogue about how it feels. The two seem to be intertwined and also inescapable. To this day, because I know no other way of being or feeling, I don’t know what it’s like to be a woman in a band—I have nothing else to compare it to. But I will say that I doubt in the history of rock journalism and writing any man has been asked, “Why are you in an all-male band?”

Os seguranças nao sabiam que elas eram a banda que ia se apresentar, achavam que eram groupies tentando invadir o backstage:
One evening we were mistaken by a backstage security guard as groupies and nearly not let into our own dressing room. When we took the stage that night, Corin said, “We’re not here to fuck the band, we are the band.” 

Musica de mulher x musica de homem
Musicians, especially those who are women, are often dogged by the assumption that they are singing from a personal perspective. Perhaps it is a carelessness on the audience’s part, or an entrenched cultural assumption that the female experience can merely encompass the known, the domestic, the ordinary. When a woman sings a nonpersonal narrative, listeners and watchers must acknowledge that she’s not performing as herself, and if she’s not performing as herself, then it’s not her who is wooing us, loving us. We don’t get to have her because we don’t know exactly who she is. An audience doesn’t want female distance, they want female openness and accessibility, familiarity that validates femaleness. Persona for a man is equated with power; persona for a woman makes her less of a woman, more distant and unknowable, and thus threatening. When men sing personal songs, they seem sensitive and evolved; when women sing personal songs, they are inviting and vulnerable, or worse, catty and tiresome.

Preocupaçao da midia com a aparência do grupo:


while engaging in the camaraderie of a music festival in England called the Bowlie Weekender, when we found a note calling us “ladymen” affixed to the bulletin board on our chalet. Or attempting to talk about our music and the process of writing an album in an interview, then to read the article and see that the writer focused on what we were wearing or how we looked, discussed our gender, or made a sexist comment in the story.
This was the same time as the Spice Girls and “Girl Power.” We knew there was a version of feminism that was being dumbed down and marketed, sloganized, and diminished. We wanted to draw deeper, more divisive lines. We wanted to separate ourselves from anything benign or pretty.
We were never trying to deny our femaleness. Instead, we wanted to expand the notion of what it means to be female. The notion of “female” should be so sprawling and complex that it becomes divorced from gender itself. 

mulher sozinha x homem sozinho
Here I was again without a family, my only identity a loner. A male loner is a hero of sorts, a rebel, an iconoclast, but the same is not true of a female loner. There is no virility in a woman’s autonomy, there is only pity. 

Claro que me apaixonei pela Carrie e pela banda. Recomendo a leitura e as musicas. O livro é recheado de fotos fofas. Tem uma parte que ela colocou o que criticos de musicas falaram da banda em grandes revistas e jornais, é de assustar como o mundo ainda esta tao despreparado para lidar com a mulher, nao so na musica, mas em todas as areas, elas têm que ouvir cada absurdo... Ela também descreveu como teve que lidar com a crise de ansiedade, depressao e sindrome do pânico. 
Fica aqui o som das meninas.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

Mulheres na direçao: Paula van der Oest (Holanda)


Assisti a dois filmes da diretora Paula van der Oest: "Lucia de B." e "Black Butterflies"

Lucia de B. (2014)



Baseado em fatos reais, narra a historia de uma enfermeira holandesa que foi condenada injustamente à prisao perpétua por de ter cometido 7 assassinatos no hospital em que trabalhava, sendo as vitimas bebês e idosos. 
Os advogados dos acusaçaos nao tinham nenhuma prova concreta que ligava-a às mortes, tentaram incrimina-la de acordo com seu perfil psicologico e suas atitudes, pois ela era uma pessoa muito reservada, nao comia com as outras enfermeiras, teve uma infância muito dificil, sua mae obrigava-a a se prostituir, escrevia umas coisas estranhas em seu diario, lia livros sobre psicopatas e baseado neste seu historico, apos a morte de um bebê na UTI e um laudo errôneo da médica, tudo levou a crer que o bebê tinha tido uma overdose de remédios, quando na verdade ele tinha morrido por complicaçoes no seu estado clinico. As outras mortes que quiseram incrimina-la aconteceram em horarios ou dias que ela nem estava la. Como se defender com a imprensa massacrando e ja condenando? Filmaço! Pra quem gosta de filmes sobre erros judiciarios, fica a dica!


Black Butterflies (2011)


É um filme sobre a vida da poetisa sul-africana, Ingrid Jonker. Vivia em uma familia conservadora, seu pai era membro do parlamento, deputado do Partido Nacional, a favor do Apartheid e presidente da comissao de censura. Apos um casamento fracassado, ela ficou sozinha com sua filha, nao tinha como se manter financeiramente, passou a se auto-destruir, sofria assédio psicologico do seu pai que odiava tanto o seu comportamento como sua poesia. Assim como toda mulher que se rebelava na época, foi internada em um hospital psiquiatrico e tratada com eletrochoques, acaba se suicidando aos 31 anos.
Um de seus poemas "Die Kind" (abaixo) foi lido por Nelson Mandela em sua posse. Preciso urgente encontrar o livro dela.


The child is not dead  

The child is not dead
The child lifts his fists against his mother
Who shouts Afrika ! shouts the breath
Of freedom and the veld
In the locations of the cordoned heart
The child lifts his fists against his father
in the march of the generations
who shouts Afrika ! shout the breath
of righteousness and blood
in the streets of his embattled pride
The child is not dead not at Langa nor at Nyanga
not at Orlando nor at Sharpeville
nor at the police station at Philippi
where he lies with a bullet through his brain
The child is the dark shadow of the soldiers
on guard with rifles Saracens and batons
the child is present at all assemblies and law-givings
the child peers through the windows of houses and into the hearts of mothers
this child who just wanted to play in the sun at Nyanga is everywhere
the child grown to a man treks through all Africa
the child grown into a giant journeys through the whole world
Without a pass
Veja também:

quarta-feira, 20 de julho de 2016

#LeiaMulheres: Carson McCullers

O meu primeiro contato com a Carson McCullers foi através do livro "A Balada do Café Triste". Eu fiquei tao embasbacada e chocada que nao consegui nem fazer resenha aqui no blog na época. Até entao eu nao conhecia o estilo literario americano Southern Gothic, é a coisa mais estranha e genial que ja li. As historias se passam em cidadezinhas pobres e esquecidas no fim do mundo, os personagens parecem que sairam do American Horror Show, gente completamente esquisita, tanto na aparência como nas atitudes, alguns agem como animais selvagens, outros sao completamente indefesos. Eu e minha estranha mania de torcer para algum deles se dar bem, mas o livro é como a vida, tem gente que faz o seu melhor e nunca vai ser recompensado, nunca vai ter paz, nunca vai chegar a lugar nenhum.
Além de "A Balada do Café Triste", terminei de ler o "O Coraçao é um Caçador Solitario" para a leitura em conjunto do "Clube dos Classicos Vivos" e ainda estou chocada, fiquei muito mal esta semana pensando nestes personagens e em mim mesma, pois também tive grandes expectativas nesta e vida e devido às circunstâncias vi cada uma delas desmoronarem como um castelo de cartas, hoje posso me considerar um ser frustrado e conformado e isso me assusta. 
Vou tentar um resumo de cada um dos livros que li:

A Balada do Café Triste

"É uma terra lúgubre. Pouco mais tem do que a fábrica de algodão, as casas de dois quartos onde vivem os operários, algumas árvores, a igreja com duas janelas de vitral e uma feia rua central que não chega aos cem metros de comprimento. Aos sábados, os caseiros das herdades vizinhas vão ali para fazer compras e dar um bocado à língua. Fora disso, é um lugar solitário, melancólico, como tudo o que fica longe e separado do mundo."

Eis a personagem feminina mais esquisita da literatura, a Amelia Evans:
Era uma mulher alta, morena, com ossos e músculos de homem; usava o cabelo curto, penteado para trás; no seu rosto trigueiro notava-se qualquer coisa de fixo, de abstrato. Poderia ter sido bela se não fosse um pouco estrábica. Pretendentes não lhe faltavam. Ela, porém, preferia a solidão, indiferente ao amor do sexo oposto. O casamento que contraiu foi diferente de todos os que se celebraram no país - estranho e perigoso enlace, que durou apenas dez dias e deixou uma impressão de escândalo e surpresa. Exceto quanto a esse matrimônio extravagante, o resto da sua vida foi de criatura solitária. Chegava a passar noites inteiras no telheiro dos pântanos, vestida de macacao e botas de borracha, a vigiar o fogo brando do alambique.
Miss Amelia prosperava com tudo o que se pode fazer com as mãos. Para a terra vizinha vendia chouriços e salsichas. Nos dias bonitos de outono moía sorgo, e o xarope que saía das suas dornas era dourado e aromático. Perita em carpintaria, construíra em quinze dias uma retrete atrás do armazém. Com os seus semelhantes é que ela não estava à vontade. As pessoas, a não ser que sejam pobres de espírito ou muito doentes, não podem ser agarradas com as mãos e transformadas de um dia para o outro em qualquer coisa mais valiosa e rentável.
Miss Amelia gostava de receitar e de fazer tratamentos. Nas estantes acumulavam-se frascos de remédios e coisas relativas à medicina. Junto da parede havia um banco para os pacientes se sentarem. Ela era capaz de suturar as feridas com uma agulha posta previamente ao lume, de forma a não as infectar. Para as queimaduras tinha unguentos refrescantes, e para as afecções não localizadas possuía drogas que compunha segundo receitas misteriosas: aliviavam bastante os intestinos, mas não se devia prescrevê-las às crianças, por causa das convulsões que provocavam; essas usufruíam de certa mezinha especial, de bom paladar e bastante suave. Enfim, no conjunto, Miss Amelia era considerada boa doutora. As suas mãos, apesar de grossas e ossudas, faziam contatos leves. Não lhe faltava também imaginação para recorrer a dezenas de remédios diferentes. Não hesitava perante tratamentos perigosos e extraordinários: por mais terrível que fosse a enfermidade, aquela mulher não temia empreender a cura. Só com uma exceção: não sabia o que fazer às doenças das mulheres. Bastava-lhe ouvir mencionar estas três palavras para que o seu rosto se sombreasse de embaraço; ela esfregava o pescoço de encontro à gola da camisa, ou as galochas uma na outra, exatamente como procederia uma criança envergonhada. Noutras matérias, porém, o povo não se enganava se confiasse nela. E nunca exigia pagamento. Não admira que os doentes acorressem à sua casa.

Ela largou o marido apos 10 dias de casamento, ele era um brucutu, bandido e membro da Ku-Klux-Klan, chamado Marvin Macy. Em seguida, apaixonou-se pelo "primo" Lymon, um anao e corcunda que apareceu na casa dela.
"Há de ser por este motivo que a maior parte de nós prefere amar a ser amado. Quase todos querem ser o agente ativo. E a pura verdade é esta: no íntimo, o fato de ser amado torna-se intolerável para muitos. O amado teme e odeia o amante, e pela melhor das razões. O amante pretende esbulhar o amado, ainda que isto lhe cause sofrimento."

Acontece uma reviravolta fenomenal e tragica nesta historia que me deixou boquiaberta por dias. Nem posso falar mais nada para nao dar spoiler. Apenas leiam! O livro tem apenas 60 paginas.

O Coraçao é um Caçador Solitario


Este é o primeiro romance que autora escreveu aos 23 anos. A trama acontece numa cidadezinha no Sul dos Estados Unidos, na década de 30. É um livro que aborda varios assuntos: ideologias politicas (capitalismo fascista e comunismo), desigualdade social, feminismo, sexualidade (homoafetividade, bissexualidade e pedofilia) e racismo (segregaçao racial americana). Eu vou mencionar estes assuntos ao falar de cada personagem. As citaçoes deixarei em francês, idioma do livro que li, apenas para meu arquivo pessoal.

Singer

No primeiro capitulo temos a historia de dois surdos-mudos que moram juntos e andam de braços dados pela rua. Sao eles: John Singer, um homem misterioso e Spiros Antonapoulos, um grego obeso e meio retardado. Singer era obcecado pelo grego e nao suportava viver separado dele, pensava nele todos os dias. Acontece um problema e o grego é preso e depois internado. Sempre que podia, Singer ia visita-lo, levava presentes e comida, fazia de tudo para agrada-lo (homoafetividade). 
"Son visage prit l'expression de paix mélancolique qu'on voit aux gens très tristes ou très sages. Il continuait cependant d'arpenter les rues de la ville silencieux et solitaire."
Apos a partida do grego, ele passa a frequentar o Café New York, onde ele faz suas refeiçoes diarias e conhece pessoas frustradas e de coraçao solitario como ele, sao cheias de sonhos e de ideologias que nao as levam a lugar nenhum. Todos gostavam dele, mesmo sendo surdo-mudo, era o que mais escutava e dava atençao aos outros. É um paradoxo interessante. 

Briff Brannon

É o dono do café, observa os clientes, tem pena de alguns, principalmente dos doentes e mutilados, fica viuvo e se apaixona pela Mick, uma menina de 12 anos, mas jamais vai dizer isso a ela. Temos aqui um caso de sentimento pedofilo, a partir do momento que ela cresce e parece mais mulher, ele perde o interesse.
"Et Mick, l'amour qui durant ces derniers mois s'était se étrangement logé dans son coeur. Cet amour était-il mort aussi? Oui. C'était fini. Elle avait grandi. Ses manières brusques et enfantines avait presque disparu. Et à la place, on sentait poindre en elle une féminité délicate."

Jake Blount

Aparece no café, embebeda-se, nunca paga a conta, dispara a falar sozinho, mas ninguém da atençao, mudava de sotaque e de vocabulario, ora falava como analfabeto e ora falava como um professor. Sua aparência produzia um efeito cômico. Ele achava que tinha o dever de falar a verdade aos operarios e a todos os que eram explorados pelo sistema, mas ninguém ouvia e ainda zombava dele. Era como Sao Joao Batista, a voz que clama no deserto, um revolucionario incompreendido. Isso o deixava frustrado e cada vez mais pirado. Porém seus discursos eram bonitos.
"L'Amérique lui apparaît comme une maison de fous. Il voit les hommes obligés de voler leurs frères pour vivre. Il voit les enfants crever de faim et les femmes travailler soixante heures par semaine pour gagner de quoi manger. Il voit une année entière des chômeurs et des milliards de dollars gaspillés, des milliers de kilomètres de terres à l'abandon. Il voit venir la guerre et il voit à force de souffrir, les gens deviennent méchants e laids, et quelque chose meurt en eux. Mais surtout il voit que le système entier est bâti sur un mensonge. Et bien que ça soit clair comme le jour - les ignorans vivent avec ce mensonge si longtemps qu'ils ne peuvent pas s'en apercevoit."
"Jésus, par exemple. Il était des nôtres. Il savait. Quand il a dit qu'il était plus facile à un chameau de passer par le chas d'une aiguille qu'à un riche d'entrer dans le royaume de Dieu - il savait fichtrement bien ce qu'il disait. Mais regarde comme l'Église a traité Jésus depuis deux mille ans. Ce qu'elle a fait de lui. Sa manière d'utiliser chaque mot qu'il a prononcé à leurs ignobles fins. Jésus serait jete en prison de nos jours. Jésusnferait partie de ceux qui savent vraiment. Moi et Jésus, on serait assis l,un en face de l'autre à table, je Le regarderais et Il me me regarderait et chacun saurait que l'autre sait. Moi, Jésus et Karl Marx on s'assoirait à une table..."
"Ils se sont battus pour que dans ce pays on soit tous libres et égaux. Ah! Et ça signifiait que tous les hommes étaient égaux devant la nature - avec des chances égales. Ça ne signifiait pas que 20% des gens étaient libres de dépouiller les 80% autres de leurs moyens d'existence. Ça ne signifiait pas qu'un riche ait le droit d'exploiter dix mille pauvres jusqu'au trognon pour s'enrichir. Ça ne signifiait pas que les tyrans étaient libres de fourrer ce pays dans un tel pétrin que des millions de gens sont prêts à escroquer, mentir ou se couper le bras droit - rien que pour gagner de quoi croûter trois fois par jour et coincer la bulle. Ils ont fait du mot liberté un blasphème."
"Le monde est plein de cruauté et de mal. Ah! Les 3/4 du globe sont en état de guerre ou d'opression. Les menteurs et les monstres sont unis, mais les hommes que savent sont isolés et sans défense."
"Ces industries ont déjà sucé le sang at amoulli les os du peuple. L'époque de l'expansion, c'est terminé. Le système de la democratie capitaliste est tout entier pourri et corrompu. Il ne reste que deux voies: le fascisme ou une réforme permanente, radicalement révolutionnaire."

Doutor Benedict Mady Copeland

Na década de 30, os negros eram proibidos de frequentar alguns lugares publicos e estabelecimentos por questoes raciais, mas o Dr. Copeland era negro e formou-se em Medicina, lutava pela igualdade racial, era vegetariano, leu mais livros que qualquer um branco da cidade, gostava de Spinoza, Shakespeare e Karl Marx, era ateu, ia de casa em casa educar o povo, promovia discursos sobre controle de natalidade e distribuia contraceptivos, dizia: "Nao precisamos de mais crianças na terra, mas de mais oportunidades para aqueles que ja nasceram". Teve 4 filhos e tinha um projeto de vida para eles: um seria cientista renomado, outro seria professor dos negros, outro seria advogado e a menina seria médica das mulheres, mas nenhum seguiu os conselhos dele, preferiram ficar do lado da mae que era religiosa, iam para igreja com ela, tiveram subempregos, foram submetidos a todo tipo de humilhaçao e nao herdaram o orgulho e nem a ambiçao paterna para o desgosto do mesmo. Ele sonhava em fazer uma passeata com mais de mil negros até Washington. Na vida real, o Pr. Martin Luther King realizou o sonho do Dr. Copeland.
Ele faz um discurso sobre Marx na festa de Natal:

 Fala da escravidao dos negros:


"Comment les morts peuvent-ils être vraiment morts quand ils continuent à vivre dans l'âme de ceux qui restent?"

Mick

A Mick era uma menina muito inteligente, tirava notas boas na escola, pensava muito, nao acreditava em Deus, amava musica, sempre parava para ouvir algo tocando no radio, sonhava em ser regente de uma orquestra e de criar uma sinfonia, queria comprar um piano. Porém ela começou a trabalhar na farmacia para ajudar na renda familiar, saiu da escola e seus sonhos foram por agua abaixo. Ela jogava com a bissexualidade, às vezes ela se vestia de menino, às vezes era feminina. Era o alter-ego da autora também.
Tanto que quando ela sonhava em ser regente, ela poderia vestir um smoking masculino ou um vestido de paetê no dia da apresentaçao. Dizia para seu amigo Harry que o ajudaria lutar contra o fascismo na Europa, pois ela nao se importava de cortar o cabelo e se vestir de soldado, ninguém nem ia notar que ela era mulher. Seus sentimentos também mistos. Ela sonhava com a Celeste, uma menina que estudava com ela, mas nunca conversaram. Gostou do Buck, da moça que vendia bilhete de loteria, da professora do 6° ano, do Singer e do Harry com que teve sua primeira experiência sexual e disse para ele nunca iria se casar.
Tinha um discurso feminista sobre a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

"Certaines musiques étaient trop intimes pour être chantées dans une maison bourrée de gens. C'était drole, aussi, à quel point on pouvait être seul dans une maison pleine à craquer. Mick se creusa la tête pour trouver un endroit bien secret où elle étudierait tranquillement cette musique. Mais elle avait beau réfléchir longuement, elle savait depuis le début que l'endroit idéal n'existait pas".
Este livro peguei na biblioteca, tem 466 paginas e dei 5/5 no Goodreads. Muito bom! Lerei tudo o que essa mulher escreveu. A vida dela foi tao bizarra quanto a de seus personagens. É isso!

terça-feira, 19 de julho de 2016

Rincón de Haikus, de Mario Benedetti

Agora aguenta minha fase hispanófila... Terminei a leitura dos haikais do Benedetti, vou deixar um tira-gosto aqui:

las religiones
no salvan / son apenas
un contratiempo

después de todo
la muerte es sólo un síntoma
de que hubo vida

lo peor del eco
es que dice las mismas
barbaridades

el exiliado
se fue adaptando al tedio
de la nostalgia

drama cromático
el verde es un color
que no madura

los epitafios
vienen a ser la gracia
del cementerio

llueve sin ruido
pero bajo el paraguas
funciona el beso

quisiera verte
en vigilia o en sueños
o dondequiera

la mujer pública
me inspira más respeto
que el hombre público

si el corazón
se aburre de querer
para qué sirve

si cae un rayo
los valientes se abrazan
a los cobardes

cuando te vayas
no olvides de llevarte
tus menosprecios

patrias de nailon
no me gustan los himnos
ni las banderas

cuando prometen
los políticos ríen
con los suplentes

me gustaría
ser noble y elegante
como un pingüino

pasan las horas
y ya nos queda un poco
menos de vida

viudo de cine
margaret greta ingrid
se me murieron

el preso sueña
algo que siempre tiene
forma de llave

en cada infancia
hay una canción tonta
que allí se queda

como es notorio
jesús no era cristiano
pero sufría

de la escritura
sólo el apocalipsis
nos acompaña

el purgatorio
tiene sala de espera
y un bar y aseos

sólo los náufragos
valoran con justicia
la natación

lo que se aprende
en la cama de dos
no tiene precio

qué linda época
aquella en que decíamos
revolución

bloqueo / alzheimer /
hiroshima / otan / sida /
no fue un buen siglo

un pesimista
es sólo un optimista
bien informado

sábado, 16 de julho de 2016

Ganhadoras do Nobel de literatura: Alice Munro

Alice Munro

Terminei a leitura do livro de contos "Fugitiva", da escritora canadense Alice Munro, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2013.
Escolhi este livro por dois motivos: faz parte do meu projeto de ler as ganhadoras do Nobel e pelo novo filme do Almodovar que foi baseado nesta obra, quem acompanha esse blog sabe que nao perco nenhum filme do Almodovar, entao li o livro antes para ver a adaptaçao cinematografica depois.


Eu nunca tinha lido Alice Munro (shame on me!) e foi amor à primeira vista. Seus contos sao classificados na literatura como realismo psicologico, assunto que muito me interessa. Adoro as descriçoes que ela faz dos personagens, todos femininos, as descriçoes do cenario e das paisagens de cidadezinhas do Canada. Fugir para se encontrar ou nao...
Eu, eterna fujona, identifiquei-me com as fugitivas, as mulheres indo de uma cidade para outra por varios motivos, mulheres on the road



Este livro é divido em 8 contos: 
"Fugitiva": O que dizer de Carla? Às vezes a pessoa tem que fugir para perceber que era melhor nao ter fugido e voltar arrependida. PS: Isso nunca me aconteceu, jamais retornei a nenhum lugar que fugi.

"Ocasiao", "Daqui a pouco" e "Silêncio": Estes três contos, um é continuaçao do outro e têm os mesmos personagens. Do conto "Silêncio" que saiu o filme do Almodovar. Estes sao os meus preferidos do livro. É uma historia de relaçao mae-filha, Juliet e Penelope.

Na cidade onde ela cresceu, seu tipo de inteligência era muitas vezes colocado na mesma categoria de uma perna manca ou um polegar a mais, e as pessoas logo apontavam as desvantagens que se poderia esperar — a incapacidade dela de operar uma máquina de costura ou de fazer um embrulho bonito, ou de reparar que sua combinação estava aparecendo. O que seria dela, eis a questão. 
Poucas pessoas, muito poucas, possuem um tesouro, e se você possui, precisa cuidar dele. Você não pode se permitir entrar numa cilada, e ter o tesouro levado de você

"Paixao": Uma historia tragica. Grace que teve uma apaixonite aguda pelo irmao "ovelha negra da familia" do seu noivo "certinho".
Ele a levou ao cinema. Viram "O pai da noiva". Grace detestou. Ela detestava garotas que eram como Elizabeth Taylor naquele filme, detestava garotas ricas mimadas de quem nada se esperava além de que fizessem bajulações e exigências. Maury disse que aquilo era para ser só uma comédia, mas ela disse que a questão não era essa. Ela não conseguia explicar qual era. Qualquer um pensaria que era porque ela trabalhava como garçonete e era pobre demais para fazer faculdade, e que se ela quisesse qualquer coisa parecida com aquele casamento ela teria de passar anos poupando para pagar do próprio bolso. (Maury realmente achava isso, e ficava tomado de respeito, quase de reverência.)
Ela não conseguia explicar ou entender muito bem que não era simplesmente ciúme que ela sentia, era raiva. E não por que ela não podia fazer compras nem se vestir daquele jeito. Era porque era assim que se esperava que as garotas fossem. Era isso que os homens — as pessoas, todo mundo — achavam que elas deviam ser. Bonitas, valorizadas, mimadas, egoístas, de miolo mole. Era isso que devia ser uma menina, era por isso que alguém devia se apaixonar. Então ela ia virar mãe e ia ficar toda piegas dedicada aos filhinhos. Não ia mais ser egoísta, só ia ter miolo mole. Para sempre.

"Ofensas": Eileen, Delphine e Lauren. De quem Lauren é filha? Quanta ferida aberta...

O importante na vida, dizia Harry a Lauren, era viver no mundo com interesse. Manter os olhos abertos e enxergar as possibilidades — ver a humanidade — em todas as pessoas que você encontrava. Prestar atenção. Se havia alguma coisa que ele tinha para ensinar a ela, era isso. Prestar atenção.

"Peças": o mal entendido de Robin. Meu segundo conto favorito. Uma enfermeira que gosta das peças de Shakespeare, tem que se deslocar de onde mora para vê-las em outra cidade. A vida real dela vai se confundindo com uma tragicomédia shakespeariana.
Os estrangeiros falavam de um jeito diferente, deixando um pouquinho de espaço entre as palavras, como fazem os atores. 
Shakespeare devia tê-la preparado. Em Shakespeare, os gêmeos são muitas vezes a razão de confusões e desastres. Um meio para o fim, isso é que esses truques deviam ser. E no final os mistérios são resolvidos, as brincadeiras são perdoadas, o verdadeiro amor ou algo assim é reacendido, e aqueles que foram ludibriados têm a elegância de não reclamar.

"Poderes": Aqui temos Tessa que tem o dom da adivinhaçao.


É isso! Com certeza lerei outros livros da autora. A Sarah Polley também esta fazendo um filme adaptado de um conto dela.


Veja também:


Musica para acompanhar a leitura

She's Leaving Home - The Beatles


Wednesday morning at five o'clock as the day begins
Silently closing her bedroom door
Leaving the note that she hoped would say more
She goes downstairs to the kitchen clutching her handkerchief
Quietly turning the backdoor key
Stepping outside she is free

She (We gave her most of our lives)
Is leaving (Sacrificed most of our lives)
Home (We gave her everything money could buy)
She's leaving home after living alone
For so many years (Bye bye)

Father snores as his wife gets into her dressing gown
Picks up the letter that's lying there
Standing alone at the top of the stairs
She breaks down and cries to her husband "Daddy our baby's gone
Why would she treat us so thoughtlessly?
How could she do this to me?"

She (We never thought of ourselves)
Is leaving (Never a thought for ourselves)
Home (We struggled hard all our lives to get by)
She's leaving home after living alone
For so many years (Bye bye)

Friday morning at nine o'clock she is far away
Waiting to keep the appointment she made
Meeting a man from the motor trade

She (What did we do that was wrong)
Is having (We didn't know it was wrong)
Fun (Fun is the one thing that money can't buy)
Something inside that was always denied
For so many years (Bye bye)

She's leaving home
Bye bye

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A historia dos maiores sucessos literarios do séc. 20.


Peguei esse livro na biblioteca, pois precisava de umas dicas de escritores do séc.20. É composto de 45 obras que fizeram sucesso neste periodo, algumas inauguraram um novo estilo literario, outras falam de assuntos que até entao eram considerados tabus, improprios, pervertidos ou contra a moral e os bons costumes. 
Como é de se esperar, nao tem muita diversidade, 40 autores sao homens e apenas 5 sao mulheres, todos sao brancos, europeus ou norte-americanos, o unico latino-americano que apareceu foi o Gabriel Garcia Marquez, nao tem nenhum africano, nem asiatico. 
Dei 3 estrelas no Goodreads porque tem uns probleminhas de revisao de texto, datas erradas, informaçao truncada que deixou algumas coisas mal explicadas e tive que consultar outras fontes para entender melhor.
Alguns eu ja li, mas so mencionei nos balanços de leitura que faço quinzenalmente. Deixarei o link no titulo dos livros que li e fiz posts. Muitos deles fazem parte dos projetos de leituras que participo, entao terao posts posteriormente.
Deixei o titulo no idioma original de algumas obras, pois nao achei a versao em português. Esta por ordem de ano de publicaçao que vai de 1907 a 1984, fiz um resuminho com palavras-chaves que definiram o sucesso de cada um, sao eles:

  • Arsène Lupin, gentleman - cambrioleur (1907), de Maurice Leblanc

Melhor série de romance policial francês e também a mais vendida.

  • Le Grand Meaulnes (1913), de Alain-Fournier

Foi considerado pelos franceses como um dos quatro romances do século junto com O Pequeno Principe, O Velho e o Mar e O Estrangeiro. Um dos mais importantes da categoria young-adult. O autor narra de forma tocante suas impressoes sobre a infância e a adolescência. Ele morre aos 28 anos, em combate na Primeira Guerra Mundial.

  • Morte em Veneza (1913), de Thomas Mann

Romance autobiografico com tematica homossexual: Homem de 50 anos que se apaixona por um jovem em um hotel na Italia. O autor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1929. Teve uma versao cinematografica, em 1971, dirigida por Luchino Visconti.

  • Em busca do tempo perdido (1913 a 1927), de Marcel Proust

Heptalogia que virou o centro dos debates literarios e revolucionou a literatura francesa e mundial.

  • La Symphonie pastorale (1919), de André Gide

O autor gosta de provocaçao e escândalo. Este livro foi escrito em forma de diario, fala de amor e moralidade: Pastor que se apaixona por uma menina orfa e cega que ele acolhe em sua casa. Os japoneses adaptaram para o cinema em 1938. O autor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1947.

  • The Mysterious Affair at Styles (1920), de Agatha Christie

Seu primeiro romance foi recusado por varias editoras. Revoluciona o gênero policial com a investigaçao psicologica do detetive Poirot.

  • The Age of Innocence (1920), de Edith Wharton

Romance historico. Ganha o Prêmio Pulitzer em 1921. Foi adaptado para o teatro e encheu as salas da Broadway durante um ano. Também foi adaptado para o cinema, em 1993, pelo Martin Scorsese.

  • Ulysses (1920), de James Joyce

É considerado a epopeia do séc.20, uma versao burlesca e irônica da Odisseia de Homero, centrada na interiorizaçao fisica e mental dos personagens.

  • Babbitt (1922), de Sinclair Lewis

Satiriza o "American way of life", a classe média materialista que nao se contenta com nada. Também é considerado o carro-chefe da linguistica, pois é escrito no modo de falar do americano comum. O autor recusa o prêmio Pulitzer, em 1926. Foi o primeiro americano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1930.

  • La Coscienza di Zeno (1923), de Italo Svevo 

Romance psicoanalitico, o autor é cohecido como Proust italiano, ele tem uma personalidade unica e isolada dos outros autores do circulo literario italiano do começo do séc. 20.


Foi considerado imoral, pois tem relatos de adulterios, amantes e corrupçao. Romance historico, narra a ascençao e a decandência dos ricos americanos na década de 20.

  • O Processo (1926), de Franz Kafka

Romance impecavel e avant-gardiste. É um grande marco na historia da literatura. Seu tradutor declarou que é uma obra unica que nao se assemelhava a nada de conhecido até entao. Hoje o termo "kafkaniano" significa uma situaçao absurda e opressora criada por um mecanismo no qual o individuo é enganado.

  • Verwirrung der Gefuhle (1927), de Stefan Zweig 

Romance com tematica homossexual. O narrador conta em forma de flashbacks sua paixao pelo seu professor. O autor austriaco de origem judaica, refugiou-se no Brasil durante a Segunda Guerra, viveu em Petropolis, agradeceu ao governo e ao povo brasileiro pela receptividade, mas ele estava muito deprimido e cansado de ver tanta barbaridade na guerra que se suicidou.

  • O Amante de Lady Chatterley (1928), de DH Lawrence

Adulterio, tabus sexuais e diferença de classes. O romance foi censurado nos EUA e Inglaterra até os anos 60. Circulou clandestinamente entre o publico leitor durante 30 anos.

  • Im Weften nichts Neues (1929), de Erich Maria Remarque

Romance sobre a Primeira Guerra. Enquanto a maioria dos romances sobre guerra que apareceram na Alemanha exaltavam os feitos dos soldados considerados herois nacionais, este livro é mais realista e fala de forma mais humana do soldado no front, seus medos, os combates, as mortes, os bombardeios, a camaradagem, o treinamento militar, a disciplina, etc. Os livros deste autor foram queimados pelos nazistas, ele perdeu a cidadania alema, foi expulso do pais e se exilou nos EUA.

  • Pietr-le-Letton (1931), de Georges Simenon

Romance policial. Cria o personagem comissario Maigret, um homem bem comum, nao tem malicia, nao é muito inteligente e nem culto, mas sabe farejar o interior das pessoas, é o "médico da alma", usa o bordao: "Entender antes de julgar". O editor duvidava que um heroi tao simples pudesse agradar aos leitores, mas ele se enganou, pois foi um sucesso imediato.

  • Voyage au bout de la nuit (1932), de Louis Ferdinand Céline

O autor viveu uma infancia pobre, era mau aluno, foi para guerra, um dos primeiros soldados a voltar mutilado. Torna-se autodidata, passa no teste para cursar Medicina. Escreve o livro aos 38 anos, completamente desconhecido no mundo das letras, sua obra é inclassificavel na literatura. O personagem é um soldado que vai para guerra e aos poucos vai perdendo o entusiasmo em relaçao aos ideais patrioticos. Ao voltar, retoma sua carreira de medico, mas fica desencantado com isso também.

  • Admiravel Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley

Sociedade distopica; ficçao cientifica; remédios para o controle de humor e de controle social; fertilizaçao em laboratorio.

  • A Condiçao Humana (1933), de André Malraux

Godard disse que o personagem é o mais fascinante da literatura contemporânea. O autor inventa a pseudo-reportagem, todos pensavam que ele tinha participado dos eventos narrados no livro, pois eles de fato aconteceram (A Revoluçao Chinesa), mas o autor nao estava la. É um estilo inovador e muito convincente, porém falso.

  • E o vento levou (1936), de Margaret Mitchell

Romance historico. Guerra de Secessao; personagem feminina forte, corajosa e determinada.

  • Of Mice and Man (1937), de John Steinbeck

O autor foi ao México e viu uns homens agricultores que sonhavam em ter uma terra para plantar, mas o autor sabia que eles nunca possuiriam. Também observa seus compatriotas durante a Grande Depressao. Ele pega emprestado a vida dessas pessoas cheia de sonhos e fantasias e da aos personagens George e Lennie. Ele escreve o livro com intuito de adapta-lo ao teatro. Ha varios dialogos e descriçoes simples e sucintas, imagens claras e frases curtas. O titulo vem do poema de Robert Burns escrito em 1781: "Os melhores planos concebidos pelos homens e pelos ratos raramente se realizam". O autor ganhou os prêmios Pulitzer e o National Award em 1940 e o Nobel de literatura em 1962.

  • A Nausea (1938), de Jean-Paul Sartre

Escrito em forma de diario, é narrado em primeira pessoa por um solitario e melancolico. É um romance literario e filosofico. Sartre recusou o Premio Nobel de Literatura em 1964.

  • The Power and the Glory (1940), de Graham Greene

A trama se passa no Mexico em 1920. Sobre um padre alcoolatra e pecador que durante o batismo de seu filho, estava bêbado e ainda colocou um nome de menina nele. Policia idiota e corrupta; revolucionarios que confiscam as igrejas. Ele joga com dualismos: bem-mal, santo-pecador, reacionario-revolucionario, etc.

  • L'Étranger (1942), de Albert Camus

Filosofia do absurdo. Roland Barthes classificou-o como sendo o primeiro classico pos guerra. Surpreendente ficçao e reflexao sobre a condiçao humana. O que choca no personagem é sua indiferença em relaçao às situaçoes, ele é condenado por nao fazer parte do jogo. É um estranho para si proprio e para os outros. Camus ganhou o Premio Nobel de Literatura em 1957.

  • Le silence de la mer (1942), de Vercors

Vercors é o pseudônimo de Jean Bruller. Este livro foi escrito, impresso e distribuido na clandestinidade durante a ocupaçao da França pelos nazistas. As pessoas nao sabiam quem era o autor que preferiu o anonimato. O personagem é um soldado alemao francofilo, inteligente e sensivel, como civil é um musico. Ao chegar na França, ele viu que a vitoria da Alemanha dependia da derrota da França, a cultura que ele amava tanto, entao ele decide deserdar. É um livro que fala sobre a recusa de colaboraçao e da vontade de conservar a dignidade em tempos adversos. Foi um bafafa porque os franceses nao gostaram desta resistência pacifica de defender o inimigo, os alemaes obviamente também nao gostaram, nem os comunistas. Achavam que era uma propaganda gaulista, pois do General de Gaulle defendia a resistência interna nao-violenta.


O menino que cativou os adultos. O recital ilustrado é espontaneo, engraçado e ingênuo, porém muito realista e que esconde uma filosofia poética e terna.

  • L'Écume des jours (1947), de Boris Vian

O livro foi incompreendido no primeiro momento, pois é uma mistura de cultura classica revisitada pelo cinema, o jazz, historias em quadrinhos e ficçao cientifica. So sera reconhecido pela geraçao de 1968.

  • The Naked and the Dead (1948), de Norman Mailer

É considerado o maior romance de guerra do século 20. O autor foi para Segunda Guerra e passava o tempo observando os soldados, perguntando quais eram as impressoes deles sobre o que estava acontecendo, suas angustias, sua sexualidade. Era tachado de pervertido e de voyeur. Ao voltar, ele escreve o livro sem ao menos se dar o trabalho de mudar o nome dos soldados que passaram a ser personagens. No geral, sao homens de linguagem chula, machoes, antissemitas, covardes, apesar de quererem passar uma imagem de heroismo, numa guerra futil e selvagem.

  • 1984 (1949), de George Orwell

Foi escrito durante a Guerra Fria, é um livro de ficçao-politica, distopico, descreve um mundo controlado pelo totalitarismo.

  • Il Visconti dimezzato (1952), de Italo Calvino

Obra inclassificavel na literatura, foi considerada como uma das representantes do neorrealismo italiano. As alusoes historicas se manifestam em formas alegoricas e simbolicas. 

  • O Velho e o Mar (1952), de Ernest Hemingway

Um velho pescador, depois de meses tentando pescar alguma coisa, parte em alto-mar, pesca um enorme peixe, a luta dura três dias e no fim ele consegue mata-lo. O peixe morto atrai os tubaroes que o devoram. O pescador retorna ao porto com a ossada desencarnada do peixe. Tanta luta, tanto trabalho em vao. Reflita!

  • Bonjour tristesse (1954), de Françoise Sagan

Foi escrito por uma menina de 17 anos, de boa familia, escreve um livro que causa escândalo. A personagem, uma menina também de 17 anos, orfa de mae, vive com o pai rico e bon vivant. Eles vao passar férias na Côte d'Azur, ela tenta afastar todas as amantes dele e ao mesmo tempo quer ter aventuras sexuais sem se casar. Um absurdo esse tipo de pensamento para uma moça na década de 50, antes mesmo da Revoluçao Sexual dos anos 60.

  • Trilogia O Senhor dos Anéis (1954), de J.R.R. Tolkien

Epopeia mitologica. Professor na Oxford, o autor era fascinado por idiomas, sabia latim, grego, hebraico, findanlês e galês, mas sua lingua favorita era imaginaria, a lingua dos elfos. Em 1917, ele escreveu o dicionario elfo Qenyaqetsa. Na trilogia, ele recriou um mundo, inventou costumes de varios povos, linguas, crenças, sagas cavalescas, criaturas fantasticas  com uma grande precisao cartografica e linguistica.

  • Lolita (1955), de Vladimir Nabokov

Pedofilia, perversao sexual. Um professor de literatura apaixona-se por uma menina de 12 anos e casa com a mae para ficar proximo dela.

  • On the road (1957), de Jack Kerouac

A biblia do movimento beatnik, conquista a geraçao "paz e amor" e leva muitos jovens à estrada. Narra a aventura de jovens que atravessam os EUA de carro até chegarem no México.

  • La Gloire de mon père (1957), de Marcel Pagnol

Romance autobiografico, memorias da infância. "Nestas lembranças eu nao falo nem mal, nem bem. Nao é de mim que eu falo, mas de uma criança que eu nao sou mais". Além de escritor, Pagnol foi dramaturgo e cineasta.

  • Doutor Jivago (1957), de Boris Pasternak

Censurado no Russia e best-seller no resto do mundo. Foi considerado um livro anticomunista. Ele recusa o Premio Nobel de Literatura em 1958.

  • Le Lion (1958), de Joseph Kessel

Inspirado por uma viagem ao Quênia, o autor escreve um romance insolito e tragico sobre uma menina de 10 anos que fala com os animais e que criava um leao.

  • The Naked Lunch (1959), de William Burroughs

Abuso de drogas, pornografia e subversao. O narrador é toxicomaniaco que nos leva em lugares reais ou ficticios, vemos o mundo pelo seu olhar alucinado, esquizofrênico e paranoico. Ele inventa identidades e missoes delirantes, umas engraçadas, outras macabras. É uma metafora da sociedade moderna e seu sistema de exploraçao, manipulaçao e dominaçao. Foi proibida a publicaçao nos EUA até 1966 e a capa foi censurada com uma tarja preta na França.

  • Une journée d'Ivan Denissovitch (1962), de Alexandre Solienitsyne

Livro bombastico sobre os campos do Goulag, na URSS. O autor foi expulso da Russia e perdeu sua nacionalidade. Ganhou o Premio Nobel de Literatura em 1970.

  • The Spy Who Came in From the Cold (1963), de John Le Carré

Espionagem, serviço secreto. Enquanto Hollywood mostrava o agente 007 como um espiao sedutor, John Le Carré apresenta um personagem diferente, um agente que faz um serviço sujo, cheio de cinismo e manipulaçoes, tendo como fundo a Guerra Fria.

  • Cem Anos de Solidao (1967), de Gabriel Garcia Marquez

Realismo fantastico. Pablo Neruda afirma que a maior revelaçao em lingua espanhola apos Dom Quixote. Ganhou o Premio Nobel de Literatura em 1982.

  • Belle du Seigneur (1968), de Albert Cohen

Adultério, amantes, suicidio. Relaçao intensa de autodestruiçao e ciumes, vida luxuosa, entediante e futil.


Romance policial medieval. O livro foi recusado por alguns editores por causa das imensas frases em latim. Tornou-se uma obra atipica, inesperada e fora do comum. Teve uma versao cinematografica em 1986, dirigida por Jean-Jacques Annaud.


Romance autobiografico, colonialismo, exotismo e erotismo. Amor entre um chinês rico e a menina branca de 15 anos e meio.


Romance anti-ideologico, exilio. Thomas, um médico sedutor, ama sua profissao e as mulheres. A esposa Tereza representa a dureza e a amante Sabina representa a leveza do ser.








A poesia Tanka de Ishigawa Takuboku

A poesia Tanka é uma das formas de poesia classica no Japao junto com o Haikai. A Tanka tem 5 versos sem rima. Em seus ultimos poemas, Takuboku reduziu as 5 linhas para 3. Ele é considerado o criador da poesia moderna no Japao. Sua poesia é autobiografica. Ele morreu aos 27 anos de turberculose. Eu fiz uma traduçao livre de algumas, sem respeitar os 5 ou 3 versos nem as silabas 5/7/5/7/7.

Meu pobre pai
cansa de ler o jornal
e sai no jardim
para brincar com as formigas


Ai, mae!
quando durmo com fome
eu, teu unico filho,
ainda recorda o sabor do teu leite


Voltando para casa
perco o ultimo onibus
e chove.
Sinto vontade de chorar.


Como um filho das colinas
sempre pensa nas colinas
quando tenho pena
sempre penso em ti.


Meu pobre coraçao
da um pulo na rua
quando vê alguém como tu.


Tinha vontade de andar de trem
e agora que desembarco
nao tenho para onde ir.


Olhando o céu nublado
sinto vontade de matar
alguém.


Nunca notei
seus erros de ortografia
nas tuas primeiras cartas de amor.


Sera que continuo
no ano passado?
É ano novo
e ja estou farto


Você nao quer viver?
Gritava o doutor
e eu nao sabia o que dizer.

domingo, 10 de julho de 2016

Mulheres na direçao: Solveig Anspach (Islandia)

Solveig Anspach faleceu ano passado (2015) de cancer.
Assisti ao filme "Louise Michel, la rebelle", dirigido pela cineasta islandesa Solveig Anspach.
Antes de falar do filme vou esclarecer algumas coisas: Um breve conceito de anarquia e em seguida, a apresentaçao da Louise Michel.
A anarquia é uma ideologia que vem da Grécia antiga (anarkhia) e significa ausência de governo. Esta ideologia foi retomada nos séculos 18 e 19 por William Godwin e por Max Stirner. Em grosso modo, significa que a sociedade pode se organizar sem governos e sem autoridades dando ordens. Nem preciso dizer, pois quem conhece um pouco de historia sabe que esse movimento foi rapidamente censurado, foi uma verdadeira caça às bruxas, muitos pensadores e militantes foram perseguidos, mortos, torturados e exilados.

Louise Michel foi uma militante anarquista francesa, nasceu em 1830 e desde pequena roubava comida na casa para dar aos miseraveis. Era fascinada por Voltaire, estudou para ser professora e escrevia poesias. Lutou por uma educaçao para todos, independente de gênero (homens tinham uma educaçao diferente das mulheres e as escolas eram separadas), lutou por orfanatos laicos, visto que era a igreja catolica que os comandava na época. Além disso, lutou na Comuna de Paris e teve que se render porque sequestraram sua mae. Foi deportada para Nova Caledonia junto com outros combatentes da Comuna.
O filme começa com esta historia da deportaçao, la ela conhece mais a fundo a ideologia anarquista. Também tenta se comunicar com os Kanaks, os nativos desta regiao isolada do mundo, apoiando-os na revolta de 1878.
Em 1900 houve a anistia para os presos politicos e ela pode retornar à França onde orquestrou varios protestos, saqueou padarias juntamente com os desempregados e famintos, foi presa varias vezes, levou um tiro na cabeça, nao morreu e ainda pedoou o atirador. Foi a primeira pessoa a levantar a bandeira negra, simbolo do movimento anarquista até hoje. Trocava cartas com Victor Hugo. Faleceu em 1905 e a populaçao de Paris fez um cortejo funebre, foi um dos funerais mais marcantes da França.
A atriz Sylvie Testud atou brilhantemente no papel da Louise Michel, eu adoro esta atriz e todos os filmes que ela faz. Recomendo a todxs que se interessam pela historia do anarquismo e pela historia da luta feminina. Tantas mulheres que lutaram por varias causas ao longo da historia, mas quase nunca sao citadas nos livros, entao temos que aproveitar o pouco do material disponivel para conhecê-las melhor. Fica a dica!
Outro filme sobre anarquia, "Les Anarchistes" que citei aqui, a personagem representada pela atriz Adèle Exarchopoulos foi baseada em uma outra mulher anarquista francesa, a Rirette Maîtrejean.

Minha lista "Mulheres na direçao" no Filmow ja tem 1744 filmes cadastrados e 175 assistidos até o momento.

Veja também: