quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Dando um tempo no blog one more time

Carxs coleguinhas (se é que ainda existe alguém que lê esse blog);

Senta que la vem chororô, mimimi, desabafo, dramalhao mexicano, tpm, histeria, whatever... Mais uma vez este blog entrara em modo stand by por uns meses. Queria muito falar de musica, de Dom Quixote, do diario da Virginia Woolf, do Tchekhov, do Sartre, dos filmes dirigidos por mulheres, terminar o dossiê da Pizarnik, so que nao tenho tempo, vou atualizar minhas leituras no Goodreads e no Instagram apenas.
Estou trabalhando de domingo a domingo, sem folga, 64 h por semana, em dois empregos. Os dois trabalhos sao temporarios, estou seguindo o exemplo da formiga da fabula da Formiga e a Cigarra (ou o contrario, nao sei mais), trabalhando duro no verao para ter provisao no inverno, pois la estarei mais uma vez desempregada e isso me estressa.
Trabalhando ao extremo, obviamente fica dificil de procurar um emprego decente na area e impossivel estudar para um concurso, entrei em um circulo vicioso dificil de sair. O Museu da Civilizaçao fechou o centro de arquivos e todos arquivistas foram pra rua. Nas sociedades historicas so tem contrato temporario, porque nao tem dinheiro para manter um arquivista como funcionario. Outros orgaos do governo so pegam estagiarios (estagio aqui nao é remunerado), voluntarios ou terceirizados temporarios que custam bem menos que um funcionario publico. Gente de humanas sofre! Vou mandar meu CV para os detetives Mulder e Scully para tentar uma vaguinha no Arquivo X, também vou mandar para o Cold Case, parece que sao os unicos lugares que tem gente interessada em consultar arquivos LOL. 
Arquivos do Cold Case
O "capetalismo" me suga inteira, engole meu tempo, minhas energias, minha paz de espirito, meus sonhos, transforma-me em um robô ou em um zumbi. Nao vivo, so existo. Ando tao cansada que a unica coisa que me da prazer é deitar na cama e ficar olhando pro teto, inerte, no silêncio absoluto, naquela vibe que os italianos chamam de "dolce far niente".
Esta instabilidade profissional e financeira me obriga a emendar varios trabalhos temporarios um atras do outro, intercalados com desempregos, estou a 5 anos sem tirar férias, quando estou desempregada nao considero férias nem pausa, porque estou estressada enviando trocentos CVs e fazendo entrevistas. Nao gasto nenhum tostao neste periodo com medo de nao ter $ no tempo das vacas magras. Tudo isso faz com que minhas crises de ansiedade sejam mais frequentes e às vezes elas desencadeiam em depressao ou sindrome do pânico. Minha ultima deprê foi quando coloquei esse blog em stand by por um ano, mesmo assim eu tive que reagir, juntar os cacos para conseguir terminar o curso e a unica coisa que consegui com ele foi contrair uma divida de 10 anos para paga-lo, porque emprego na area que é bom, nada. Se para uma pessoa normal ja é dificil o ultimo semestre de um curso, imagine para quem é estrangeira e doente da cabeça.
Estou sem fazer terapia, porque nao tive tempo e nem money pra procurar um psi, ou seja, em caso de uma crise de pânico ou de depressao, serei encaminhada direto para emergência psiquiatrica. Até que nao seria nada mal ficar internada por alguns dias, seria o unico jeito de descansar um pouco. Isso que é chegar no fundo do poço, colegas! Quando você começa a achar que o hospital psiquiatrico é o melhor lugar para se estar. Hospital is the new hotel para tirar férias. 
Antes eu nao entendia porque ha tantos suicidios, tanta gente pirada e toxicomanos por essas bandas, hoje entendo muito bem. Haja valium e vodka para suportar tanta pressao! Todo esforço que a gente faz nunca é bom o suficiente, comecei a achar que sou burra, sinto-me insegura e com medo de errar a maior parte do tempo. 
Parece que cheguei em Wayward Pines, um lugar aparentemente perfeito, mas quando a gente passa a viver, as coisas vao ficando cada vez mais esquisitas, começa a dar uma agonia para fugir, mas nao consegue. E mesmo se conseguisse, fugir para onde nesta altura do campeonato? Eu gosto daqui, mas aqui nao gosta de mim. Muita gente que chegou na mesma época que eu ja fugiu e nao se arrependeu. Aqui é bom para quem é da area de turismo, da saude e de informatica. Nao é o meu caso.
Minha vida é o titulo deste blog, eu tento organizar o caos, mesmo sabendo que nao se organiza o caos, ele é sempre instavel, perturbado, ou seja, luto contra a maré. Eu tento buscar onde foi que eu errei, tenho a impressao que as coisas para mim acontecem sempre do jeito mais dificil, mais complicado e para os outros parece mais facil. Talvez nao seja facil para ninguém, talvez eles so fingem que esta tudo bem ou sabem lidar melhor com a situaçao, pois nao é possivel que eu seja tao azarada. Talvez eu escolhi a cidade errada, fiz o curso errado, fiz escolhas erradas, nasci errada e errante. 
Pode ser que eu seja pretensiosa e ambiciosa demais. Se eu me conformasse com um emprego em um supermercado por exemplo, poderia ficar la o resto da vida, recebendo um salario razoavel, teria o que mais preciso: estabilidade. So que infelizmente eu nao posso me conformar com uma coisa que seria insuportavel para mim, nao porque eu seja melhor que ninguém, longe disso! É que eu choraria todos os dias da minha vida fazendo isso, nao suporto ficar 20 min no mercado fazendo minhas proprias compras, muito menos passar o dia inteiro trabalhando. Eu prefiro morrer a fazer coisas que nao quero, que nao vejo sentido. Nao aguentaria passar o dia inteiro escaneando codigo de barras, empacotando os artigos em sacolas plasticas, sorrindo fake para os clientes e ainda tentar convecê-los a fazer o cartao de fidelidade. Sem falar que tem uns clientes osso duro de roer, as crianças birrentas que querem tudo e os pais nao compram nada. Cruzes! Que inferno! Ninguém merece. 
Eu queria muito ser uma ovelha obediente que aceita toda merda do mundo de bom grado, que se conforma com a vida como ela é, que se sujeita a todo tipo de afronta e humilhaçao sem pestanejar, que nao liga de ser capacho. A vida de gente assim é bem mais simples e mais facil, eles conseguem até ser felizes sem remédio. So que nasci ovelha negra, desculpe humanidade!
Sou imediatista, quero que tudo aconteça agora, no meu tempo, mas como diz meu colega: Du calme, Ana! ça va venir avec le temps. Quando me dizem para ter calma, ai que fico mais nervosa. Com tempo tudo se ajeita? Pode ser, mas o aluguel, as dividas nao esperam esse tempo chegar, voilà porque sou imediatista e desesperada.
Também é muita arrogância de minha parte querer ter um pingo de dignidade e ser fiel aos meus principios, ne c'est pas? Querer ter hora de almoço, férias, um trabalho em horario comercial, de segunda a sexta, vida social... Baixa a bola, dona Ana! "Seje, menas"! Quem sou eu para ter dignidade, confiança e orgulho proprio? Pobre nao tem isso nao. 
Nao é facil! Domingo saio meia-noite de um trampo e segunda-feira tenho que estar às 7h30 no outro. De sexta-feira trabalho das 7h30 à meia-noite, 17h de labuta em um unico dia, vida de chinês. Em um deles nao tem nem hora de almoço, a gente come um biscoitinho ou um chocolate ou uma fruta ao mesmo tempo que trabalha, porque the freak-show must go on. Tanto esforço e nem é pra ficar rica (antes fosse!), é apenas para manter as contas em dia e ter saldo na época do desemprego. 
Diferente do que Sartre disse, o inferno nao sao os outros, o inferno sou eu mesma, pois nunca me senti bem em lugar nenhum, durante toda minha vida sempre me senti deslocada e isso so vai piorando com o passar dos anos. Aquele sentimento que Sylvia Plath definiu muito bem: independente do lugar, sempre me sinto dentro de uma redoma de vidro tentando respirar. 
"porque onde quer que eu estivesse — fosse o convés de um navio, um café parisiense ou Bangcoc —, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado (...) O ar da redoma me comprimia, e eu não conseguia me mover".
“Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim”

A letra da musica abaixo me define: