sábado, 21 de janeiro de 2017

Correspondências, de Clarice Lispector

Li Correspondências, de Clarice Lispector e vou deixar alguns fragmentos de assuntos que me interessam, tais como: os filmes que ela assistiu, os livros que leu, os lugares em que ela morou ou turistou, choques culturais e até receitas. Vou começar com cartas de amor:


Sendo fofa com aquele que viria a ser seu marido e pai de seus filhos, Maury Gurgel Valente


"Somente uma coisa me faria bem agora. Seria adormecer com a cabeça no seu colo, você me dizendo bobagenzinhas gostosas pra eu esquecer a ruindade do mundo. Vou dormir pensando nisso"
"tinha vontade de fazer um embrulho de mim, com papel de seda, lacinho de fita, e mandá-lo pra você. Aceita?"
Resposta dele: "Eu topo integralmente a ideia de receber você num embrulhinho, com laço de fita e tudo. Manda, meu bem, que eu ponho debaixo do travesseiro. Assim, só pensarei em coisas boas."
Ela tentando defini-lo e ele vem com essa: "Então você pensa que me apanha numa definição? As definições são asfixiantes e eu gosto de liberdade". 

Solidao e aborrecimentos


"Estou bastante acostumada a estar só, mesmo junto dos outros". (À Maury)
"Estou cansada de pessoas e sozinha me aborreço. Eu mesma não sei o que quero" (À Tania Kaufmann)
"tenho impressão de que quando eu for velha hei de praguejar o tempo todo" (À Lucio Cardoso)

Leituras e livros:


Aldous Huxley
"Sua carta veio justamente depois de uma noite de quase-insônia, de sonhos malucos e de Huxley." (À Maury)
Resposta de Maury com indicaçao de livro: 
É isso mesmo, você anda lendo Huxley. Leia o fim do “Contraponto”, também, “of suchs is the kingdom of heaven”

Gustave Flaubert
"Caiu-me plenamente nas mãos Madame Bovary, que eu reli. Aproveitei a cena da morte para chorar todas as dores que eu tive e as que eu não tive." (À Lucio Cardoso)

Rosamond Lehmam
"Estive relendo um livro de Rosamond Lehmam, passagens sobre crianças, coisas adoráveis." (À Tania Kaufmann)

André Gide e Katherine Mansfield
"Reli a Porta estreita de Gide, sobretudo encontrei as Cartas de K. Mansfield. Não pode haver uma vida maior que a dela, e eu não sei o que fazer simplesmente. Que coisa absolutamente extraordinária que ela é."
"Talvez você ache o título mansfildeano porque você sabe que eu li ultimamente as cartas da Katherine." (À Lucio Cardoso)

Rainer Maria Rilke e Marcel Proust
"É ótimo falar com ele (Paulo Mendes) sobre livros dos quais a gente gosta. Ele me emprestou os Cahiers de Malte, de Rilke, e pedaços escolhidos de Proust." (À Lucio Cardoso)

Policiais e Jean Giraudoux 
Estou lendo em italiano e romances policiais também. Li Anfitrião 38 (peça teatral de Jean Giraudoux). (À Lucio Cardoso)

Proust (de novo) e Poussière
"Assim, eu estava lendo Poussière e encontrei uma coisa quase igual a uma que eu tinha escrito. E agora que estou lendo Proust, tomei um choque ao ver nele uma mesma expressão que eu tinha usado no Lustre, no mesmo sentido, com as mesma palavras. A expressão não é grande coisa, mas nem sendo medíocre se chega a não cair nos outros.
Estou lendo À sombra das rap’rigas eim floire, como traduziram os portugueses, estou lendo em francês naturalmente. Eu pensava que ia gostar de Proust como se gosta das coisas esmagadoras; mas com grande surpresa vejo que tenho um prazer enorme e sincero em lê-lo, acho-o naturalíssimo, nada cacete, nada imponente, pelo contrário, de uma modéstia intelectual que nunca se sacrifica por um brilho, por uma imagem; você concorda? diga." (À Lucio Cardoso)

Emily Brontë
"Minha irmã Elisa mandou-me uma tradução sua de Emily Brontë, ainda não li de tão cheia de mil pequenas ocupações esses dias." (À Lucio Cardoso)
"Um dia desses eu acordei com uma moleza de gripe e depois do café voltei para a cama. Achei então que era um bom momento para ler as poesias de Emily Brontë. Como ela me compreende, Lúcio, tenho vontade de dizer assim. Há tanto tempo eu não lia poesia, tinha a impressão de ter entrado no céu, no ar livre. Fiquei até com vontade de chorar mas felizmente não chorei porque quando choro fico tão consolada, e eu não quero me consolar dela; nem de mim. Você está rindo?" (À Lucio Cardoso)

Julien Green
"Julien Green para mim é dos maiores e foi minha paixão por muito tempo (só deixou de ser porque também as paixões literárias vão se apagando, sem se saber por quê). Mas ainda o venero, apesar de seus últimos livros terem decaído muito." (À Tania Kaufmann)

Tomás de Kempis
"Quanto às leituras, variadas, provavelmente erradas, a mais certa é a Imitação de Cristo, mas é muito difícil imitá-Lo, e isso é menos óbvio do que parece. "(À Fernando Sabino)

Nao leu Harper Lee
"Não li To Kill a Mocking Bird e não conheço o autor. Depois você me conta. (À Paulo Gurgel Valente)"

Livros do Brasil
"Recebo poucas notícias do Brasil, e quase nada de livros, nem sei o que se publica. Me mandaram Sagarana, Água funda e A busca, os três ótimos." (À Lucio Cardoso)

Criticas:

O critico deu a entender que ela estava copiando Virginia, Proust e Joyce, sendo que ela nem os tinha lido ainda.
"Escrevi para ele dizendo que não conhecia Joyce nem Virginia Woolf nem Proust quando fiz o livro, porque o diabo do homem só faltou me chamar “representante comercial” deles." (À Tania Kaufmann)
"Imagine que depois que li o artigo de Álvaro Lins, muito surpreendida, porque esperava que ele dissesse coisas piores, escrevi uma carta para ele, afinal uma carta para ele, afinal uma carta boba, dizendo que eu não tinha “adotado” Joyce ou Virginia Woolf, que na verdade lera a ambos depois de estar com o livro pronto." (À Lucio Cardoso)

Cinema

"Vi um filme idiota onde o rapaz dizia: eu gosto de você. E a moça dizia: eu sei, mas não gosto do jeito pelo qual você ama as pessoas. Eu sei, é preciso dar muito mais o que dou. É também de minha natureza carregar nos ombros a culpa do mundo. Se todos sentissem isso talvez saísse um novo mundo. Uma pessoa só pode apenas sucumbir. Foi isso que fiz chorando no cinema e aliviando uma mágoa confusa." (À Tania Kaufmann e Elisa Lispector)
"Temos ido ao cinema. Revi a Estranha passageira e realmente o filme, que não é novo em técnica ou em originalidade especial, tem uma linda história, cheia de sugestões e de conselhos discretos. Em Casablanca fui com o Cônsul americano ao cinema da Cruz Vermelha e vi Ladies in Washington. Não tem evidentemente letreiros em português, mas eu entendo tudo ou quase tudo; é uma questão de prática." (À Tania Kaufmann e Elisa Lispector)
"Em cidade pequena, até os filmes são ordinários, de far-west e comédias, de um modo geral. Fiquei radiante de você ter visto Ladrões de bicicleta. Não é mesmo um dos maiores filmes que já fizeram? Talvez mesmo o maior. Imagine que entramos no cinema para vê-lo sem nenhuma referência anterior, apenas porque o diretor era bom. Imagine o choque e a surpresa." (À Tania Kaufmann)
"Fui ver um filme impressionante: O bebê de Rosemary. É de arrepiar os cabelos. Mas se você for, tem que ir bem no princípio."
"Estou esperando um filme chamado Teorema, com o diretor italiano Pasolini. Você viu? Houve um festival de cinema aqui no Rio, mas a multidão era tal que se tornava impossível chegar perto dos cinemas. Espero vê-los em circuito normal."(À Paulo Gurgel Valente)

Exposiçao


"Fomos há pouco ver uma exposição de pinturas holandesa, de Van Gogh para cá. Eu estava vendo pacificamente com a cabeça. De repente vi um pequeno quadro Vers le Soir, de um pintor chamado Karsen. Entendi muito bem o que você disse, Tania, sobre a paisagem que se misturou com você. Esse quadrinho finalmente me dominou. É uma casa no cair da noite. Não posso descrever. Tem umas escadas, umas heras, o branco é azulado e tudo um pouco escuro; tem umas estacas – é um fim de caminho com mato."


Conselho que deu à irmã

"Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades – depois disso fica-se um pouco um trapo. Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo." (À Tania Kaufmann)

Condiçao feminina no Brasil

So para constar que a luta vem de longe e nada mudou.
"Uma das vereadoras (Lia Correa Dutra é vereadora agora, tomou posse um dia destes), uma senhora que se chama Ligia Lessa Bastos (talvez v. conheça, eu, não) está se batendo no Conselho, pela criação de uma “Casa para a Mãe Solteira” e então apareceram estatísticas. Vou reproduzir para v. tomar conhecimento. A gente sabe que existe muito no Brasil, país católico, que não admite divórcio e outras coisas, sem falar nos preconceitos, mas as cifras falam mais alto". (De Bluma Wainer)

Amigos expatriados contando suas experiências


Tenho dado muitas gafes aqui com o meu pobre inglês. Uma: entrei num Drugstore para comprar remédio para dor de cabeça e acabei levando uma loção para cabelos. Tenho tido muitos pesadelos. Um: ontem sonhei com um rato encravado na parede, guinchando de dor. Tenho reformado muitos conceitos. Tenho feito descobertas importantes, por exemplo: o pecado é simplesmente tudo o que Cristo não fez. Tenho conhecido sujeitos famosos, por exemplo: Duke Ellington. Tenho tido muito pouco dinheiro. Tenho tido muitas oportunidades de ficar calado. Tenho tido muita decepção com os Correios. Tenho tido cansaço, saudade e calma. Tenho bebido muito, muito, muito. Tenho lido os suplementos dominicais. Tenho tido vontade de voltar. Tenho escrito muitas cartas para você. Tenho dormido muito pouco. Tenho xingado muito o Getúlio. Tenho tido muito medo de morrer. Tenho faltado muita missa aos domingos. Tenho tido muita pena de Helena ter se casado comigo. Tenho tido dor de dente. Tenho certeza que não volto mais. Tenho contado muito nos dedos. Tenho franzido muito o sobrolho. Tenho falado muito com os meus botões. Tenho tido muita vontade de brincar. Tenho feito muitas manifestações de apreço ao Senhor Diretor. Clarice, estou perdido no meio de tantos particípios passados. Estou com vontade de fumar e o meu cigarro acabou, estou com vontade de namorar de tarde numa pracinha cheia de árvores, estou com muitas saudades de mamãe. 
(...)
Fernando Sabino é realmente um ser de comovente estupidez: no Brasil, tinha casa, amigos, emprego melhor, automóvel (se bem que...), chope no Alcazar, Rubem Braga, Moacir, livros na estante, cartas da família, doenças do Pagé, discussão com Nicodemus, sol na varanda, café na esquina, jornais pela manhã. Aqui ele não tem nada disso e ainda ganha menos, trabalha mais, se literatiza abominavelmente, finge que sabe inglês, é empurrado de tarde no subway, leva desaforo pra casa, come comida sem sal, toma café sem açúcar, e para o mal dos pecados nunca saberá com antecedência quando é que vai voltar.
(De Fernando Sabino)
Resposta de Clarice:  "Não cesso de imaginar vocês em New York e não sei como. Como é que Heleninha fala no meio da cidade? E você trabalha de noite num arranha-céu? e os arquivos? Só agora é que vejo que vocês no Rio eram uma das garantias que eu procurava. Por que é que todo mundo quer sair do Brasil?"
Quanto tempo na realidade vão ficar nos EEUU? Paulo diz que vocês ficarão seis meses apenas... Desejo muita felicidade a vocês. Sejam muito felizes: estou com vontade de dar conselhos grandiosos, dizendo: custa um pouco adaptar-se a um lugar novo etc. 

Bluma vai para o Brasil e quem sabe se de lá sairá ou quando. Sei q. é bom voltar – sinto saudades daquilo e sei mesmo q. vivendo aqui, não seria inteiramente feliz – faltar-me-ia o Brasil, mas agora q. sei q vou para ficar, q sei q vou deixar Paris, analiso melhor como esta cidade já é uma coisa na minha vida. (De Bluma Wainer)

Você foi a Paris ou vai? Que bom, se eu pudesse ir esperar você na estação. Clarice, queria que v. visse como o Sam tem saudades de Paris. O rapaz está doente e a doença é “parisite”. Que eu tenho também, é verdade. Não quero nem pensar que não voltarei lá. Ao contrário, penso sempre que voltarei e não muito tarde. Não sorria pensando que deixei de gostar do Brasil, não. Mas está acontecendo o que aconteceu quando cheguei dos E.U. – tudo e todos me aborreciam e eu não queria de jeito nenhum viver nos E.U. e naquele período, encontrei um grande trabalho político que me tomava todo o tempo. E hoje, encontro todo mundo pessimista, sem elã para nada. 
Desculpe Clarice, sei bem como v. desejaria voltar, porém creia – e v. sabe como queria voltar eu mesma –, a gente nem imagina o quanto aprende e quanto de bem nos faz estar um pouco fora. Sei, bichinha, que v. já está cansada de “ver coisas”. Mas lhe diz aqui essa sua irmã-postiça, não fique triste por não voltar agora para o Brasil. O lado sentimental, pessoal, essa tristeza gostosa talvez seja até melhor do que sentir essa tristeza que a gente não pode remediar, que é o Brasil de hoje. Eu sabia disso. É verdade, mas é que a gente, de longe, não pode impedir que nossa imaginação funcione e aqui, verifica-se que os homens pioram em vez de melhorarem e que a realidade é bem outra e tudo isso, mesmo para v. que não se mete nestas coisas de política, tenho certeza, ficaria triste mesmo sem sentir.
(De Bluma Wainer)

E você tem bem razão de não querer sair do Brasil. Se sair, que seja por pouco tempo, só para dar uma espiada, e voltar. É ruim estar fora da terra onde a gente se criou, é horrível ouvir ao redor da gente línguas estrangeiras, tudo parece sem raiz; o motivo maior das coisas nunca se mostra a um estrangeiro, e os moradores de um lugar também nos encaram como pessoas gratuitas. Para mim, se foi bom, como um remédio é bom pra saúde, ver outros lugares e outras pessoas, já há muito está passando do bom, está no ruim nunca pensei ser tão inadatável (sic), nunca pensei que precisava tanto das coisas que possuo. Embora agora mesmo esteja envergonhada de ser assim, porque enquanto escrevo a catedral está batendo os sinos; fico envergonhada de não viver bem em qualquer lugar onde uma catedral bata sinos, onde haja um rio, onde as pessoas trabalhem e façam compras; mas é assim mesmo. (À Lucio Cardoso)

Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? assim fiquei eu..., em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus aguilhões – cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que nos leve de volta, só a ideia de ver você e de retomar um pouco minha vida – que não era maravilhosa mas era uma vida – eu me transforme inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lassidão de mulher de cinquenta anos.  (À Tania Kaufmann)

Receitas


– Você gosta de comer coisa boa? Então experimente fios de ovos com creme de leite Nestlé. A gente não tem vontade de acabar nunca.

 – Esquente uma colher de sobremesa de vinho tinto, esquente uma xícara de café com açúcar, misture tudo e beba devagarzinho. Dá um gosto bom no coração.

– Experimente mocotó. Demora a cozinhar e leva tempero. Mande fazer um pirão com o caldo. É forte, é potente, dá força humana. É capaz de você odiar!!! (À Andréa Azulay)

PS: Eu, Ana, fiz essa do café com vinho, é muito bom mesmo!

Turistando

Sobre as mulheres de BH: "As mulheres daqui são quase todas morenas, baixinhas, de cabelo liso e ar morno. Aliás, quase que só há homens nas ruas. Elas, parece, se recolhem em casa e cumprem seu dever, dando ao mundo uma dúzia de filhos por ano. (À Lucio Cardoso)

Visita à Casablanca
"Na verdade eu não sei escrever cartas sobre viagens; na verdade nem sei mesmo viajar. É engraçado como, ficando pouco em lugares, eu mal vejo. Acho a natureza toda mais ou menos parecida, as coisas quase iguais. 
Casablanca é bonitinho, mas bem diferente do filme Casablanca... As mulheres mais do povo não carregam véu. É engraçado vê-las com manto, véu, e vestido às vezes curto, aparecendo sapatos (e soquete) tipo Carmem Miranda. A cidade não tem muita marca oriental, é cheia de soldados americanos, franceses e ingleses." (À Tania Kaufmann e Elisa Lispector)

"Nunca vi ninguém menos turista. (Vi muitas coisas mas não só tenho preguiça de contar, como de lembrar.)
As coisas são iguais em toda a parte – eis o suspiro de uma mulherzinha viajada. Os cinemas do mundo inteiro se chamam Odeon, Capitólio, Império, Rex, Olímpia; as mulheres usam sapato Carmem Miranda, mesmo quando usam véu no rosto. A verdade continua igual: o principal é a gente mesmo e só a gente não usa Sapatos Carmem Miranda." (À Lucio Cardoso)

Paris
Estivemos em Paris andando desde manhã até de noite. Aquela cidade é doida, é maravilhosa. Não consegui absorvê-la, ter uma ideia só. (À Fernando Sabino)

Não sei se estou louca por Paris. É difícil dizer. Com a vida assim parece que sou “outra pessoa” em Paris. É uma embriaguez que não tem nada de agradável. Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu não conheço, uma mulher que eu detesto, uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma. É por isso também que não tenho escrito. Não pensem que Clarice está se divertindo tanto que não tem tempo de escrever. Tempo eu tenho, mas escrever para vocês pediria uma concentração que estou evitando porque se eu me concentrar uma vez, passo a não querer ver tanta gente e a estragar o programa de Maury. Eu amo vocês. E Paris é ótimo e até conheci pessoas ótimas. (À Tania Kaufmann e Elisa Lispector)

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